Folha de S. Paulo


Foi um desrespeito à mulher, diz médica sobre cesárea forçada

Para Melania Amorim, obstetra e professora da Universidade Federal da Paraíba, a decisão que obrigou uma grávida a passar por uma cesariana fere a autonomia da mulher. Ela critica a conduta da equipe médica, que deveria orientar a paciente e deixá-la decidir. Leia abaixo:

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Folha - O quadro da paciente era indicação para cesárea?

Melania Amorim - Não. Há evidências sólidas com estudos internacionais que mostram que ter uma terceira cesárea é mais arriscada do que ter um parto normal, pois pode gerar uma série de complicações, como lesão intestinal e infecção. A ruptura uterina é muito rara, chegando a, no máximo, 1% dos casos de partos normais pós-cesáreas. Bebê pélvico [em posição invertida] e gravidez com 42 semanas também não são indicação de cesárea. Mas, infelizmente, a cesárea está banalizada no nosso país.

O que você acha da decisão judicial?

O movimento de humanização ao parto está em luto, pois esse é uma atentado contra as mulheres. Não podemos permitir o desrespeito à autonomia do corpo da mulher. O caso deverá ser denunciado à Corregedoria do Ministério Público.

Qual deveria ter sido a atitude da equipe médica, então?

Os médicos devem expor aos pacientes quais os riscos e benefícios de cada uma das escolhas e deixar o paciente decidir. O que foi feito é a mesma coisa que tirar um apêndice de um paciente sem o seu consentimento.

Erika Carolina/Folhapress
Adelir Goes com seu marido, Emerson Guimarães, e a filha
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