Folha de S. Paulo


Cabral diz que água que abastece o povo fluminense não será retirada

O governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB), anunciou em seu Twitter que "jamais permitirá que se retire água que abastece o povo fluminense", e acrescentou que "nada que prejudique o abastecimento das residências e das empresas do Estado será autorizado."

As afirmações dele são referentes à proposta de transposição do rio Paraíba do Sul, feita pelo governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), com objetivo de captar uma parte do recurso hídrico para abastecimento de São Paulo.

Ontem, Cabral disse que antes de decidir se autorizaria a obra no rio, que é federal, necessitaria de laudos técnicos do Inea (Instituto Estadual do Meio Ambiente), além da própria ANA (Agência Nacional de Águas), principalmente um estudo de impacto ambiental.

Alckmin ligou ontem para Cabral. O tucano declarou que a ideia foi compreendida pelo governador do Rio. Mas a assessoria de Cabral disse que ele só dará resposta após receber parecer de órgãos ambientais de seu governo.

CRISE DE ABASTECIMENTO

Em meio à crise hídrica com risco de racionamento em São Paulo, Alckmin foi anteontem a Brasília pedir à presidente Dilma Rousseff (PT) autorização para captar água da bacia do rio federal Paraíba do Sul e despejá-la no sistema Cantareira, que está no nível mais baixo da história.

O Paraíba do Sul é responsável pelo abastecimento de 15 milhões de pessoas -11 milhões só no Rio de Janeiro. A ANA (Agência Nacional das Águas) foi orientada pelo Planalto a analisar a possibilidade com Minas e Rio, que são abastecidos por essa fonte.

"Não temos nada contra São Paulo, mas precisamos garantir a segurança hídrica do Rio. Não cometeremos nenhuma irresponsabilidade", disse Indio da Costa, secretário do Ambiente do Rio.

PRECEDENTE

O governo fluminense diz que a exigência de vazão de 250 m³/s no ponto de captação do sistema Guandu não é atendida em 8% do tempo. Ou seja, considera que não há situação tão confortável.

Segundo Rubem Porto, professor da Escola Politécnica da USP, a retirada de 5 m³/s proposta pelo governo paulista é pequena diante da vazão média de 160 m³/s do rio Paraíba do Sul na divisa entre São Paulo e Rio.

"É um valor irrisório. Há reservatórios na região capazes de controlar o volume do rio e diluir o efeito da retirada."

Para o professor de engenharia hidráulica do Mackenzie Paulo Ferreira, porém, o receio é de que se abra precedente para São Paulo retirar depois mais água da bacia.

"Os municípios temem que esses cinco metros cúbicos de água por segundo depois virem dez, depois 15, até faltar água para eles", afirma.

Eles avaliam que a medida atenua, mas não resolve a crise de abastecimento na Grande SP. Diante do crescimento populacional, seria preciso pelo menos mais 10 m³/s.


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