Folha de S. Paulo


Dilma defende usinas e culpa rios da Bolívia por cheia do Madeira

A presidente Dilma Rousseff afirmou neste sábado (15) que foram os rios da Bolívia, país vizinho a oeste de Rondônia, os responsáveis pela cheia histórica do rio Madeira, que já atingiu mais de 3.500 famílias em Porto Velho (RO).

"Nossa avaliação é que houve, de dezembro a fevereiro, um fenômeno [climático] em cima da Bolívia. Ocorreu uma imensa concentração de chuvas [lá]." Segundo a presidente, por isso, os rios bolivianos que desembocam no Madeira provocaram a cheia porque o país vizinho está acima do nível do rio Madeira. "Não temos essa quantidade de água [para resultar na cheia], mas sim os rios que formam o Madeira, nos Andes, o rio Madre de Dios e o Beni."

O ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, Thomas Traumann, afirmou que a presidente não responsabilizou a Bolívia, e sim as chuvas no país vizinho pelas cheias.

A petista esteve em Porto Velho e de lá sobrevoou a região afetada pelas águas do Madeira. Durante a visita, a presidente acolheu pedido de calamidade pública da prefeitura.

Para explicar a situação da cheia, Dilma usou uma fábula e defendeu as usinas Santo Antônio e Jirau, que estão sendo acusadas de serem as responsáveis pelo problema na região.

"É um absurdo atribuir às duas hidrelétricas a quantidade de água que vem pelo rio. E eu até uso a fábula do lobo e do cordeiro. O lobo [bebe água] na parte do cima do rio e diz ao cordeiro: 'você está sujando minha água'. O cordeiro respondeu: 'não estou, não. Eu estou abaixo de você no rio'. A mesma coisa é a Bolívia em relação ao Brasil. A Bolívia está acima do Brasil em relação à água", afirmou.

Roberto Stuckert Filho/PR
Presidenta Dilma Rousseff durante sobrevoo em áreas atingidas pelas cheias na região Norte do país
Presidenta Dilma Rousseff durante sobrevoo em áreas atingidas pelas cheias na região Norte do país

Do lado brasileiro, as duas usinas, obras construídas com recursos federais do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), são apontadas por ambientalistas e promotores como agravantes da cheia de Rondônia.

Neste semana, a Justiça mandou
que Santo Antônio e Jirau banquem moradia e alimentos para os atingidos pela cheia do Madeira.

Acompanhada dos ministros Francisco José Teixeira (Integração Nacional) e Arthur Chioro (Saúde), a presidente reforçou as promessas que havia feito há três dias, como a liberação do FGTS para os desabrigados, novas unidades de imóveis do Minha Casa Minha Vida, a anuência federal para abertura de estrada para chegar a cidades isoladas no Estado e seguro-defeso para ribeirinhos.

Dilma anunciou o acolhimento do pedido de estado de calamidade pública de Porto Velho. Segundo o Ministério da Integração Nacional, essa medida se refletirá sobretudo na fase de reconstrução da cidade. Até agora, R$ 5,8 milhões foram liberados pela União a Rondônia para socorro às vítimas.

O nível do rio chegou a 19,15 metros acima do nível normal. Segundo a Defesa Civil de Rondônia, 779 famílias estão desabrigadas e 1.699 desalojadas. Há, ainda, outras 1.300 que se anteciparam e deixaram suas casas e foram para residências de parentes e amigos, sem precisar de apoio do governo.

"Não é possível olhar para essas duas usinas e achar que elas são responsáveis pela quantidade de água que entra no Madeira. A não ser que a gente acredite na história da fábula do lobo e do cordeiro", disse a presidente.

A Folha tentou, mas não conseguiu falar com a Embaixada da Bolívia em Brasília nem com o consulado do país vizinho em Guajará Mirim (RO).

Além dos danos causados em Rondônia, a cheia do Madeira, a pior dos últimos cem anos, também isolou o Acre, já que a rodovia BR-64, único acesso por terra ao Estado, está parcialmente interditada –apenas caminhões conseguem passar por ela.

A população dos dois Estados têm tido falta de alimentos também. Tanto que, nas últimas semanas, aviões da FAB têm abastecido Porto Velho e Rio Branco (AC).

Lucas Reis/Folhapress
Presidenta Dilma Rousseff caminha ao lado do governador peemedebista de Rondônia, Confúcio Moura
Presidenta Dilma Rousseff caminha ao lado do governador de Rondônia, Confúcio Moura (PMDB)

'PROBLEMA PEQUENO'

Após sobrevoar o rio Madeira, Dilma foi questionada sobre a crise do governo com o PMDB. Diante dos problemas enfrentados pelos moradores da região, disse a presidente, essa questão com a base aliada ficou pequena.

"Pode saber que sempre que você vê isso [cheia do Madeira], meus problemas passam a ser pequenos, os problemas de cada um de nós [também]. É a gente diante da natureza e da força dela. Mesmo assim a gente teima e tende a enfrentar."

A viagem de Dilma a Rondônia, governado por um peemedebista, Confúcio Moura, foi anunciada nesta sexta-feira (14). Hoje de manhã, a assessoria da Presidência divulgou a ida dela também para o Acre, Estado comandado pelo petista Tão Viana.

A presidente deixou Porto Velho às 13h30 (horário de Brasília) com destino a Rio Branco (AC). Ela sobrevoaria a região e se reuniria com autoridades do Acre.

Naquele Estado, os moradores têm sofrido também com a cheia de outro rio, o Acre.

Colaborou BRASÍLIA


Endereço da página:

Links no texto: