Folha de S. Paulo


Detenção de duas mulheres provoca tumulto na cracolândia em SP

A Guarda Civil Metropolitana deteve duas mulheres nesta terça-feira na região da cracolândia, no centro de São Paulo. Após as prisões, pessoas que frequentam a região jogaram pedras contra os guardas, que revidaram com bombas de gás e golpes de cassetetes.

Segundo a GCM, as duas mulheres -que não tiveram os nomes informados- foram detidas após serem flagradas por câmeras de monitoramento, vendendo drogas na região, hoje mais cedo.

Durante o tumulto, um homem foi atingido na testa pelo estilhaço de uma bomba, mas não precisou de atendimento médico. Um guarda também foi atingido por uma pedra na cabeça e levado à Santa Casa, onde foi medicado e liberado.

"Eles partiram pra cima sem a gente fazer nada. Nós estávamos quietos e eles passaram no meio da multidão com o carro e depois prenderam uma usuária. O povo ficou revoltado e começou a jogar pedra neles. Um estilhaço de bomba que jogaram bem perto de mim acertou minha cara. O pior é que sou tranquilo, não fiz nada", afirmou o ajudante geral Sidnei Calixto, 40, ferido no confronto.

Carros da GCM tiveram a lataria amassada e vidros quebrados pelas pedradas durante a confusão.

Felipe Souza/Folhapress
Carro da GCM é apedrejado na cracolândia, na região central de São Paulo, após prisão de duas mulheres
Carro da GCM é apedrejado na cracolândia, região central de São Paulo, após prisão de duas mulheres

"Eles estavam em muitos, e nós apenas em três. Depois que eu fui atingido, perdi o sentido. Levei seis pontos", afirmou o guarda civil metropolitano ferido. Ele não quis se identificar.

Segundo a Guarda, duas horas de filmagem mostram as duas mulheres detidas fazendo tráfico de drogas na região. Com uma delas foi apreendida 5 pedras de crack e R$ 118 em dinheiro trocado -o que, segundo a polícia, indica que ela vendia drogas.

Ainda segundo a polícia, ela é suspeita de trabalhar para a outra mulher, com que a polícia apreendeu R$ 465 também em notas pequenas.

O delegado André Gonçalves, que investiga o caso, afirmou que as imagens serão usadas para identificar outros suspeitos de vender drogas na região. Segundo ele, um homem também foi levado à delegacia sob suspeita de participar da depredação dos veículos, mas nas imagens é possível vê-lo apenas na multidão, sem cometer agressões ou vandalismo. Ele foi liberado.

Massaro Honda Junior, que frequenta o local regularmente, presenciou o confronto. "Eles pegaram uma senhora que vem aqui uma vez por semana usar droga e as pessoas se revoltaram. Não cabe a eles [guardas] chegar assim, bater e forjar flagrante. Eles têm que investigar antes", afirmou ele.

O advogado Eldair Dagoberto Barbosa, que defende a mulher encontrada com dinheiro, afirmou que as imagens não provam nada contra a sua cliente. Segundo ele, o dinheiro que estava com ela era a pensão dos filhos e seria usada para pagar água e luz, e restante seria depositado no banco.

As duas mulheres serão encaminhadas ao 89º DP (Portal do Morumbi) e depois devem seguir para o presídio feminino de Franco da Rocha, na Grande São Paulo. A assessoria da Secretaria de Segurança Urbana afirmou que a conduta dos guardas envolvidos na ação será investigada.

Segundo a prefeitura, de 14 de janeiro a 14 de fevereiro, 25 suspeitos de tráfico foram presos na região e mais de 4.000 pedras de crack foram apreendidas, na operação "De Braços Abertos" com a parceria entre GCM e PM. "Em alguns casos, a detenção de suspeitos de tráfico causa reação na aglomeração de usuários", afirmou.

OUTRO CASO

Em janeiro, uma ação de policiais do Denarc (departamento de narcóticos) também terminou em confronto na região da cracolândia. Na ocasião, o tumulto também foi motivado pela prisão de um suspeito de envolvimento do tráfico de drogas.

A confusão provocou uma série de críticas. A Secretaria da Segurança Pública afirmou, porém, que a ação foi legítima. "Houve resistência, três policiais foram feridos e três viaturas danificadas. Os policiais buscaram reforço e realizaram quatro flagrantes por tráfico de drogas", afirmou.

O prefeito Fernando Haddad (PT) chegou a dizer que a operação foi "lamentável" e a o Ministério Público abriu um inquérito para investigar a ação. "Foi uma ação muito nebulosa, esquisita, estranha", afirmou o promotor Arthur Pinto Filho na ocasião.


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