Folha de S. Paulo


Greve dos motoristas paralisa ônibus em Curitiba nesta quarta-feira

A greve de motoristas e cobradores de Curitiba aprovada na noite desta terça-feira (25) fez com que a cidade amanhecesse sem ônibus nas ruas na manhã de hoje.

As estações-tubo e os terminais estão vazios, e as garagens de ônibus, bloqueadas por grevistas. O trânsito é intenso na cidade e há lojas fechadas na região central pela ausência de funcionários.

Curitiba é a terceira capital neste ano a enfrentar greve do transporte coletivo. Nesta semana, Belo Horizonte teve paralisação de motoristas e cobradores por dois dias, suspensa na noite de ontem, após audiência de conciliação. A categoria deve receber 7,25% de reajuste salarial.

Já Porto Alegre ficou 15 dias sem transporte público, com até 100% dos ônibus parados. Ao final do movimento grevista, os motoristas e cobradores obtiveram aumento de 7,5% -superior aos 5,56% inicialmente oferecidos pelos empresários- em acordo na Justiça do Trabalho.

Problemas nas condições do transporte coletivo e o preço das tarifas de ônibus foram dois dos principais temas de reivindicações nas grandes manifestações realizadas sobretudo em junho do ano passado em todo o país.

Em Curitiba, de acordo com a prefeitura, 100% da frota foi paralisada com a greve. O município conseguiu uma ordem judicial para manter pelo menos 40% dos ônibus em circulação, mas o sindicato disse que não havia sido notificado da decisão. A multa por descumprimento é de R$ 10 mil por dia.

A categoria pede aumento de 16% para os motoristas e 22% para os cobradores, contra os 5,25% oferecidos pelas empresas.

O Setransp (Sindicato das Empresas de Transporte Público de Curitiba) afirma que esses índices "jamais foram negociados no país" e que representariam um aumento de 30% na folha de pagamento das empresas, "onerando ainda mais o sistema".

Cerca de 2 milhões de pessoas utilizam o transporte público de Curitiba diariamente. Como alternativa, a Urbs (responsável pela gestão do sistema) está cadastrando vans e carros particulares que queiram fazer o transporte de passageiros durante a greve. A tarifa máxima é de R$ 6 por pessoa. Hoje, a passagem de ônibus em Curitiba custa R$ 2,70.

PRESSÃO DOS PATRÕES

A greve é mais uma das pressões sobre a tarifa de ônibus de Curitiba. Além dos motoristas e cobradores, que pedem aumento salarial, os empresários do transporte reclamam que estão acumulando prejuízos e que recebem menos do que deveriam.

No final do ano passado, algumas empresas de ônibus chegaram a parar as atividades por algumas horas alegando falta de dinheiro. Para o sindicato patronal, um reajuste salarial como o que pedem os motoristas teria forte impacto no preço da passagem.

Por outro lado, órgãos de controle como o TCE (Tribunal de Contas do Estado) e a Câmara de Vereadores apontaram sobrepreço da tarifa de ônibus, que, segundo os relatórios, poderia baixar até R$ 0,48 com o corte de algumas despesas.

Há grupos organizados na cidade que pedem a queda da tarifa, os mesmos que organizaram os protestos do ano passado e que promoveram a redução da passagem de R$ 2,85 para os atuais R$ 2,70.

O prefeito Gustavo Fruet (PDT) diz que está obedecendo os contratos vigentes, e já manifestou irritação com a pressão pela queda da passagem. "Parece até um leilão ao contrário: quem é capaz de dar a menor tarifa?", questionou em entrevistas recentes. "Daqui a pouco, inviabiliza o sistema. Nós estamos perdendo a capacidade de investimento."

Há alguns anos, usuários reclamam da alta lotação e da queda de qualidade do sistema de ônibus de Curitiba, que foi pioneiro na adoção de vias exclusivas para ônibus e é considerado modelo internacional.


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