Folha de S. Paulo


Com economia mais lenta, São Paulo aposta é na criatividade

A "locomotiva do país" já não é tão rápida. O Estado e a cidade de São Paulo, os dois maiores PIBs (Produto Interno Bruto) do Brasil, crescem hoje mais devagar do que o resto. De 1999 a 2011, por exemplo, a participação paulistana no PIB brasileiro caiu de 15,7% para 11,5%.

A experiência internacional mostra que o fenômeno é normal. O Estado de Nova York (EUA), por exemplo, embora símbolo da riqueza americana, foi ultrapassado.

Primeiro, em 1971, pela Califórnia, que venceu pelas indústrias de tecnologia, pela agricultura -o Estado tem muitas vinícolas, por exemplo- e pelo forte comércio nos seus portos. Depois, em 2004, pelo Texas, puxado pela indústria do petróleo.

Editoria de Arte

SEMELHANÇAS

O caso americano pode ser premonitório sobre o futuro de São Paulo porque a capital paulista e Nova York têm muitas semelhanças.

Ao redor de ambas as cidades nasceram as primeiras indústrias dos países, que anos depois foram embora ao mesmo tempo em que o setor de serviços crescia -hoje, é o mais importante.

Na USP, pesquisadores se dedicam a entender o efeito dessa transição em regiões da cidade de São Paulo -e encontram semelhanças com o que aconteceu nos EUA.

"A saída das indústrias deixa uma paisagem de abandono e desolação. De início, o espaço não é ocupado por nenhuma outra atividade. É uma sensação de vazio", diz o geógrafo André Borsa José, que fez uma dissertação de mestrado sobre o impacto da desindustrialização no Ipiranga (zona sul).

Com o tempo, construtoras se interessam pelas áreas, que em São Paulo tendem a sofrer forte verticalização, com prédios comerciais e residenciais.

CRIATIVIDADE

Assim como São Paulo, Nova York encontrou na chamada economia criativa uma maneira de criar uma nova identidade e novas receitas.

Essas atividades vão de desenvolvimento de games até a arquitetura, a comunicação e as artes.

O que os americanos descobriram, porém, é que, embora essas atividades possam gerar muita riqueza, elas tendem a ser superadas, em valores absolutos, pela produção de bens menos "poéticos", como alimentos ou combustível.

Uma diferença importante entre as duas cidades é o fato de que, embora no Brasil municípios distantes tenham atraído indústrias e se tornado produtores rurais importantes, os principais polos tecnológicos continuam próximos à capital paulista.

Eles se encontram em lugares como São José dos Campos, Campinas e São Carlos, sempre ao redor de boas instituições de ensino e pesquisa. Não há uma referência mundial como o Caltech, instituto de tecnologia em Pasadena, na Califórnia, em Sinop (MT), por exemplo.

Há ainda o fato de que a ocupação do Oeste americano é muito mais antiga do que a do interior do Brasil. Já nos anos 1950, a Califórnia tinha 14 milhões de habitantes e o Texas, mais ao centro do país, tinha 9 milhões.

Só recentemente a população do Mato Grosso ultrapassou 3 milhões de habitantes. Rondônia e Tocantins, têm cerca de 1,5 milhão de habitantes cada. Já São Paulo, Rio e Minas têm juntos 80 milhões de habitantes.

Entre 2002 e 2010, enquanto São Paulo cresceu 21,8%, Mato Grosso e Tocantins cresceram 28,3% e 31,6%. No longo prazo, essa diferença pode ser decisiva.

Assim, embora possa demorar muitas décadas, a tendência é clara: em qualquer lugar, é inevitável que a locomotiva se torne menos importante conforme os outros vagões ganham força para andar sozinhos.


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