Folha de S. Paulo


Por ocupação, grupo de sem-teto ameaça parar a cidade de São Paulo

Após bloquear com 5.000 manifestantes três vias importantes da zona sul de São Paulo, sem-teto que ocupam um terreno na região prometem interdições ainda maiores nos próximos dias.

Com faixas vermelhas, o ato comandado pelo MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto) atrapalhou o trânsito na marginal Pinheiros, na ponte do Socorro e na estrada do M'Boi Mirim por cerca de cinco horas na manhã de ontem.

O protesto foi uma resposta a declarações do prefeito Fernando Haddad (PT), que defendeu a implantação de um parque na área onde está o acampamento conhecido como Nova Palestina, na região do Jardim Ângela.

"Nós vamos dar um tempo para o prefeito dar uma resposta. Se ele não der a que queremos, na semana que vem vai ser ainda maior", disse o coordenador do MTST Guilherme Boulos.

Avener Prado/Folhapress
Manifestantes sem-teto da ocupação Nova Palestina, na região do Jardim Ângela, zona sul de SP, bloqueiam a estrada do M'Boi Mirim
Manifestantes sem-teto da ocupação Nova Palestina, na região do Jardim Ângela, zona sul de SP, bloqueiam estrada do M'Boi Mirim

A promessa é juntar os sem-teto de ontem com os de outras 12 ocupações na cidade para "fechar todas as principais avenidas".

Mas isso só deverá ocorrer após reunião entre o movimento e o secretário municipal de Relações Governamentais, João Antonio, na próxima quarta-feira.

Ontem, depois do protesto, Haddad disse que não vai priorizar os sem-teto.

"Se protestar e impedir a circulação for critério para atendimento, a cidade vai se desorganizar", disse.

A Nova Palestina é o maior acampamento de São Paulo hoje. Começou com 2.000 famílias em 29 de novembro e, um mês depois, já tinha 8.000. Há lista de espera para ter um barraco no local.

A área invadida, de um milhão de metros quadrados, é particular e foi declarada de interesse social para preservação ambiental.

Por lei, 10% dela podem ser destinados à habitação, mas os sem-teto querem aumentar esse percentual para 30%. Para isso, eles querem que a prefeitura apoie a mudança no zoneamento, que precisa passar pela Câmara.

O secretário João Antonio disse à Folha que apresentará "duas ou três áreas como alternativa" ao terreno.

"Reconhecemos que é uma situação explosiva", afirmou.

LENTIDÃO

Logo após o fim da manifestação, por volta das 9h50, a cidade apresentava 60 km de congestionamento -índice ainda abaixo da média devido ao período de férias.

Parado na marginal Pinheiros, o instalador de acessórios para motos Rafael Carvalho, 33, deitou-se no banco. "Fiquei parado a 300 metros do meu trabalho."


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