O italiano Franco Terranova odiava Mussolini, mas foi convocado e combateu na Segunda Guerra como aviador. Depois da vitória dos aliados, foi procurar outro país para recomeçar a vida. Escolheu o Brasil por causa de uma animação de Walt Disney: o filme "Você Já Foi à Bahia?" (1944), estrelado pelo papagaio Zé Carioca.
Não gostava muito de samba, segundo o filho Marco, mas ficou fascinado com o colorido e a exuberância do país idealizado no desenho.
O napolitano pegou um navio e chegou ao Brasil em 1947 com pouco mais que a roupa do corpo. Passou pelo Paraná e por São Paulo antes de se estabelecer no Rio.
Arrumou um emprego na Petite Galerie, fundada em 1953, e rapidamente se tornou sócio da galeria e precursor do mercado de arte no Brasil.
Além de vender quadros, virou personagem da cena carioca. Em 1957, marcou encontro com o escultor Frans Krajcberg, nascido na Polônia, e os dois foram juntos se naturalizar brasileiros.
Pelas mãos de Terranova, passaram obras de artistas importantes do país nas décadas de 50 (Alfredo Volpi), 60 (Carlos Vergara), 70 (Luiz Áquila) e 80 (Ernesto Neto).
"Antes dele, muita gente ainda vendia suas obras em casa, no próprio ateliê", lembra o poeta Ferreira Gullar.
Nos últimos anos, se aposentou e passou a se dedicar a outra paixão, a poesia. Em 2012, lançou "Sombras" (Réptil), com prefácio de Gullar.
Morreu ontem de câncer no pâncreas, aos 90. Estava em casa com a mulher, Rossella. O casal teve quatro filhos.
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