Não foi bem um milagre de Natal que evitou que dois aviões batessem no ar. A redundância dos sistemas, essa sim, impediu um desastre.
Característico na indústria da aviação (aprendido a custa de acidentes), o conceito é o de que uma única falha, por si só, não derrube um avião.
Avião da Azul faz manobra de emergência para evitar colisão durante voo
No caso específico de anteontem, o que salvou todos a bordo foi um conjunto de equipamentos chamados de TCAS (sistema anti-colisão de tráfego, em tradução livre).
O dispositivo permite aos aviões comunicar-se entre si e "enxergar" um ao outro.
Funciona assim: quando uma aeronave está a 40 segundos de bater noutra, algo como 6 km de distância, um símbolo amarelo aparece na tela dos dois aviões e um sinal sonoro alerta a tripulação para a existência de outra aeronave bem próxima.
Se os pilotos não fizerem nada, a 25 segundos (ou menos de 4 km de distância) outro alerta é emitido, tanto visual (vermelho) quanto sonoro –neste caso, o dispositivo orienta os pilotos, em inglês, a fazer "manobras evasivas": em geral manda um avião descer e o outro subir.
NÃO É NORMAL
Isso posto, não é normal que um avião chegue tão próximo do outro assim (além de um tremendo susto para qualquer passageiro e situação tensa para a tripulação).
Não ter havido tragédia não significa não ter havido erro. Uma suspeita é que os controladores não tenham visto os aviões perto entre si.
Dois pilotos, um da Azul e outro da Gol, fizeram outro alerta: os controladores de voo estão sobrecarregados por conta da mudança feitas pela Aeronáutica nas regras de tráfego aéreo sobre Rio e SP, em vigor desde o dia 12.
Em resumo, uma cadeia de eventos é necessária para um acidente aéreo. A primeira barreira de segurança foi rompida quando dois aviões se aproximaram perigosamente. O TCAS e a ação dos pilotos evitaram o pior.
Em 2006, não foi assim. Um Legacy entrou na contramão e bateu quase de frente com um Boeing da Gol (acidente com 154 mortos); entre outras falhas, o dispositivo anticolisão do jato estava desligado.