Folha de S. Paulo


Vivi um inferno, diz brasileira que se 'refugiou' em embaixada na Noruega

Após correr o risco de perder a guarda da filha e passar 20 dias refugiada na embaixada do Brasil em Oslo, na Noruega, para não ser obrigada a entregar a criança para adoção, a brasileira Vitória Jesumary, 37, conseguiu autorização para retornar ao Brasil com Sofia, 3.

Natural de Olinda (PE), Vitória desembarcou na noite desta quarta-feira (18) no Recife e foi recebida por familiares que acompanhavam seu drama pela internet. "Nunca mais vou sair daqui", diz Vitória agora. "Vivi um inferno naquele lugar."

O caso ganhou repercussão internacional após uma irmã de Vitória, que mora no Brasil, criar um abaixo-assinado no site Change.org. Foram coletadas 20 mil assinaturas em uma semana.

Segundo Vitória, o problema com o conselho tutelar de Oslo começou quando ela e o marido, um chileno naturalizado norueguês, se separaram e disputaram na Justiça a guarda de Sofia.

"Por decisão judicial, passamos para a guarda compartilhada. Sofia ficava uma semana com cada um. Mas o conselho tutelar achou que não era adequado para ela", afirma Vitória.

A partir daí, segundo a mãe, conselheiros tutelares passaram a demonstrar preocupação excessiva com os hábitos da menina.

"Ela é trilíngue, bem adaptada [à cultura norueguesa], mas, por exemplo, tinha hábitos alimentares diferentes dos das crianças da escola", diz.

"Ela também andava de patins sozinha, mas o conselho dizia que esse não é um brinquedo pedagógico. Eles acham que são melhores do que eu para tomar conta da minha filha."

FUGA E REFÚGIO

Em 28 de novembro, na semana em que Sofia ficava com o pai e ex-marido de Vitória, Alberto Kroff, 46, o conselho tutelar bateu à porta dele com ordem para levar a menina para adoção.

Kroff, então, colocou a filha no carro e, conforme Vitória conta, dirigiu em alta velocidade até a embaixada do Brasil, onde os dois se refugiaram. A mãe, que vivia na cidade de Drammen, juntou-se a eles horas depois.

Acionado, o Itamaraty afirma que passou a negociar com a Justiça norueguesa. E informa que não pode comentar detalhes da vida privada da família.

O governo brasileiro enviou às autoridades de Oslo documentos que comprovavam que os familiares da brasileira, que moram em Olinda, tinham condições de cuidar dela e da criança. As duas foram liberadas para deixar o país. O pai da menina viajou com elas para o Brasil.

Vitória conta que se mudou para a Noruega pela primeira vez em 2006, depois de se casar com Kroff. Voltou ao Brasil em 2009, grávida, e teve a filha em São Paulo.

O pai veio buscá-las em 2011. Desde então, Vitória vivia no país nórdico, onde trabalhou em uma empresa de design e em uma loja de roupas folclóricas.


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