Folha de S. Paulo


Operação da PF prende policiais militares, civis e um federal em Goiás

A Polícia Federal deflagrou uma operação nesta quinta-feira (12) para desarticular uma quadrilha suspeita de corrupção, estelionato e violação de sigilo funcional.

Entre os presos estão policiais civis, militares e o chefe do núcleo de tecnologia da informação da superintendência regional da própria Polícia Federal em Goiás.

As investigações apontaram que Anderson Luís Coelho, no exercício de suas funções na superintendência da PF, comandava uma organização criminosa que interceptava ligações telefônicas ilegalmente e as vendia para terceiros.

Na decisão do juiz Alderico Rocha Santos, da 5ª Vara Federal da Justiça Federal em Goiás, consta que a organização criminosa era composta basicamente por policiais --três militares, dois civis e um federal.

Todos foram presos hoje e afastados de suas funções.

Segundo o documento, os três policiais militares eram encarregados de cooptar interessados em obter dossiês formados a partir de conversas interceptadas, dados bancários e fiscais, filmagens, entre outros meios.

A clientela seria composta, segundo a decisão judicial, de cônjuges traídos, empresários interessados em vigiar empregados, credores com dificuldade de receber dos devedores, entre outros. O grupo estaria buscando atualmente uma aproximação com assessores do governo de Goiás com o intuito de oferecer o serviço.

Ao policial federal, segundo o documento da Justiça, caberia incluir nas ordens judiciais linhas telefônicas e e-mail de pessoas não investigadas com o objetivo de conseguir informações para compor os dossiês.

Dois PMs envolvidos, um major chefe do Copom (Centro de Operação da Polícia Militar em Goiânia) e um soldado, são apontados como responsáveis pela negociação e recebimento do pagamento pelos serviços, além de apresentar aos contratantes as informações contidas nos dossiês elaborados.

Segundo a decisão judicial, a atividade ilegal se tornou lucrativa e os membros pretendiam expandir o negócio criminoso, adquirindo uma maleta usada na interceptação ilícita de telefones.

Ainda de acordo com a decisão, há indícios da atuação do grupo no extermínio de pessoas envolvidas em crimes, inclusive o assassinato do advogado Davi Sebba.

Sebba foi morto no dia 5 de julho de 2012 durante operação da PM de Goiás no estacionamento do supermercado Carrefour Sudoeste, em Goiânia.

OPERAÇÃO

A Operação Cold Case cumpriu 21 um mandados de busca e apreensão nas cidades de Goiânia, Anápolis e Itapuranga, em Goiás, e em Fortaleza, no Ceará.

As investigações, iniciadas há oito meses, verificaram a criação de um site de vendas falso pelo grupo.

Os produtos supostamente comercializados no endereço não eram entregues, e os valores pagos, desviados para a conta de "laranjas", segundo a PF. A Justiça determinou que o site fosse retirado do ar.

Na decisão, há menção ao pagamento de R$ 10 mil por uma interceptação telefônica.

Os mandados de prisão foram 11. Um deles, de um empresário, ainda não havia sido cumprido até a publicação desta reportagem. Ocorreram ainda três conduções coercitivas.

OUTRO LADO

A Polícia Civil de Goiás, por nota, informou que os dois policiais civis envolvidos no caso foram afastados de suas funções e responderão um procedimento administrativo disciplinar. Outras medidas dependerão da finalização do inquérito policial da PF.

O corregedor da PM, Lourival Camargo, disse que está analisando a decisão do juiz para decidir quais procedimentos administrativos serão adotados.

Alexandre Iunes, advogado do policial federal Anderson Luís Coelho, informou que ainda não teve acesso ao inquérito e que não sabe do que seu cliente foi acusado.


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