Folha de S. Paulo


Mais um PM é julgado por morte de juíza; testemunhas apontam ameaça

O tenente da Polícia Militar, Daniel Benitez, acusado de arquitetar a morte da juíza Patrícia Acioli, pode ser condenado a mais de 30 anos de prisão ainda nesta sexta-feira. O julgamento dele ocorre desde a manhã de hoje no Tribunal do Júri de Niterói, região metropolitana do Rio.

A magistrada foi assassinada com 21 tiros, em 11 de agosto de 2011, quando chegava em casa, após sair do Fórum de São Gonçalo, também na região metropolitana. Outros cinco policiais militares já foram condenados por participação no crime.

Até o início da noite, quatro das dez testemunhas arroladas para o julgamento de Benitez já tinham prestado depoimento. Duas delas chegaram a afirmar que foram ameaçadas de morte pelo tenente, que é acusado de homicídio triplamente qualificado e formação de quadrilha armada.

A advogada Ana Cláudia Lourenço disse em juízo que soube que o tenente queria matá-la através do PM Jefferson Miranda --condenado a 26 anos de prisão por participar da morte da juíza-- porque o réu teria antipatia por ela. A advogada disse ainda que sofreu ameaças de agressão física.

"Ele [Benitez] se meteu numa conversa minha com o Jefferson e ameaçou me socar. Só não me socou porque Tavares [que ainda deve ser julgado pelo crime] chamou ele", disse ela. A advogada defendia parte dos PMs do GAT (Grupo de Ações Táticas) no processo que a juíza julgou horas antes de morrer.

Muito emocionado, o inspetor Ricardo Moreira chorou no plenário na hora de depor contra Benitez. Ele disse que vive em prisão domiciliar há dois anos, desde que sofreu as primeiras ameaças do grupo. Ele era investigador da 72º DP (São Gonçalo) na época do crime e atua hoje na Delegacia de Homicídios de Niterói.

"Eu estou marcado para morrer por essa quadrilha por cumprir o meu dever. Uso colete à prova de balas até dentro de casa. A Polícia Civil me protege, mas vivo sob efeito de remédios para me manter em pé", contou o inspetor no júri --vestido com colete.

A defesa de Benitez nega as acusações e tenta convencer a inocência do seu cliente aos jurados dizendo que as ameaças não partiram diretamente do réu. O inspetor afirmou que foi ameaçado diversas vezes por telefone por homens que se diziam PMs e mandavam ele parar a investigação da morte da juíza.

O delegado Felipe Ettore, titular da Delegacia de Homicídios do Rio na época do crime, também já foi ouvido.

Efe
Juíza Patrícia Acioli, que foi morta em agosto de 2011; justiça determina transferência de dois acusados da morte
Juíza Patrícia Acioli, que foi morta em agosto de 2011; justiça determina transferência de dois acusados da morte

JULGAMENTO

No início da manhã, o julgamento atrasou cerca de duas horas por conta de um tumulto envolvendo a família de Benitez. Parentes dele teriam agredido cinegrafistas, que tentavam fazer imagem deles chegando ao tribunal.

A mãe e a irmã de Patrícia Acioli acompanham o julgamento, previsto para acabar apenas no fim da noite. "Embora sejam depoimentos longos, nós estamos conseguindo dar um belíssimo retrato da tragédia que é esse processo e do perigo que são esses acusados se ficarem soltos", disse o advogado da família da juíza, Técio Lins e Silva.

Benitez já cumpre prisão preventiva há mais de um ano. Ele foi transferido para o presídio federal de Campo Grande, Mato Grosso do Sul, junto com Claudio Luiz Silva de Oliveira, ex-comandante do Batalhão de São Gonçalo (acusado de ser o mandante do crime) --após a Polícia Civil descobrir um plano de fuga deles no Rio.

Oliveira deve ser julgado somente no dia 20 de março do próximo ano. Os outros quatro PMs no dia 3 de abril.

Até agora, cinco PMs foram condenados: Carlos Maciel dos Santos foi sentenciado a 19 anos e seis meses de reclusão, Jefferson Miranda a 26 anos, Jovanis Falcão a 25 anos e seis meses, Junior Cezar Medeiros a 22 anos e seis meses, Sérgio Costa Junior a 21 anos de prisão.


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