Folha de S. Paulo


Funcionários depõem e voltam a apontar falhas em obra que desabou

Três funcionários da obra que desabou na noite da última segunda-feira, em Guarulhos, na Grande São Paulo, prestaram depoimento na tarde de hoje e voltaram a apontam problemas na construção. Segundo eles, havia rachaduras em vários pontos da construção.

O desabamento do prédio de cinco andares ocorreu por volta das 19h20 de segunda-feira, na Vila Leonor. O operário Edenilson de Jesus Santos estava no local e permanece desaparecido. Equipes dos bombeiros ainda fazem buscas, com a auxílio de cães farejadores e retroescavadeiras.

Um dos funcionários que depôs foi Edvaldo Jesus dos Santos, irmão de Edenilson. Ele disse ao delegado Geraldo Martim Maracajá que a "cada dia", uma nova trinca aparecia nos pilares da obra, atingindo também as vigas de sustentação. Segundo ele, a orientação do mestre de obras era que passasse cimento nos locais.

Raimundo da Luz Cardoso, que costumava dormir no alojamento com Santos, disse ter detectado "umas quatro" vigas de sustentação do prédio com rachaduras, no subsolo e em andares superiores. Segundo ele, as rachaduras aumentavam a medida em que o prédio subia, chegando a medir dois dedos.

Ele relatou ainda que há cerca de três semanas ouviu um barulho no subsolo. Quando foi ao local, viu que quatro blocos haviam caídos, como se tivessem sido "forçados" para baixo pela viga. Ele afirma que apos ter dito ao mestre de obras sobre o ocorrido, e que a laje estava descendo, ouviu como resposta que era normal, já que o calor e o sol fazem o bloco ficar ressecado, podendo cair com qualquer movimento sobre a laje.

O inquérito que investiga o acidente foi aberto ontem pela Polícia Civil. O proprietário da construtora Salema, responsável pela obra, Fernando Madeira Salema, foi chamado para depor, mas ainda não compareceu à delegacia. Procurado pela reportagem, uma funcionária da construtora afirmou que ele está internado.

INSPEÇÃO

A Comissão de Constituição e Justiça da Câmara aprovou ontem uma proposta que estabelece normas para inspeção de todos os edifícios do país.

A proposta foi aprovada ontem em caráter terminativo e, se não receber recurso em cinco dias, seguirá para votação no Senado.

Pelo projeto, edifícios residenciais, comerciais e prédios públicos com até 20 anos terão que passar por inspeção do estado geral de solidez e funcionalidade a cada cinco anos. Já imóveis mais antigos deverão ser analisados a cada três anos.

O responsável pela edificação deverá contratar engenheiro para fazer as avaliações. As medidas não terão efeito para unidades de até dois andares.


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