Folha de S. Paulo


Bilhete mensal começa a funcionar neste sábado em São Paulo

No subsolo de um edifício antigo que já foi sede de banco, funcionários da prefeitura manuseiam cartões de plástico. Em outra sala, eles são testados em catracas que simulam ônibus e bloqueios do metrô. São os últimos testes do Bilhete Único Mensal.

Uma das principais promessas de campanha do prefeito Fernando Haddad (PT), o novo cartão começa a funcionar neste sábado (30). Por um preço fixo, vai permitir viagens ilimitadas de ônibus, metrô ou trens por 31 dias seguidos.

Bilhete Único Mensal valerá a pena para 17% dos usuários
Tarifa de Londres, Paris ou NY é mais vantajosa que a de SP

Na última quarta-feira, a Folha acompanhou os procedimentos de preparação do cartão.

Produzido por um fornecedor terceirizado, os cartões chegam só com o chip interno e uma estampa. São cinco imagens à disposição, todas de atrações famosas da cidade como o Theatro Municipal ou o estádio do Pacaembu.

No local que no passado foi o cofre do banco, são gravados nos cartões "virgens" os códigos eletrônicos necessários para o funcionamento do novo bilhete. Cada cartão recebe uma "chave" digital única, em procedimento que leva cerca de nove segundos.

Mas a principal diferença do novo cartão é sua memória, quatro vezes a do antigo. "Ele também é mais moderno e tem mais itens de segurança", diz Adauto Farias, diretor de gestão da SPTrans, empresa da prefeitura responsável pelo sistema.

Apesar de não envolver dinheiro, a gravação das informações digitais tem aspectos de segurança e confidencialidade, por isso foi escolhido o cofre para o procedimento.

São 16 máquinas, que fazem cerca de 15 mil gravações por dia. O trabalho começou há alguns meses, por isso foi formado estoque e o trabalho era tranquilo mesmo às vésperas da estreia do bilhete.

A operação é comandada por Álvaro Ribeiro, 55, funcionário da prefeitura há 29 anos. Ele diz que o ritmo é bem diferente do que presenciou em 2004, quando também foi responsável pela produção dos primeiros cartões eletrônicos da cidade. Em 18 de maio daquele ano, o Bilhete Único estreava para substituir os passes de papel.

"Foi uma loucura aquela época, a gente trabalhava 24 horas por dia, em três turnos. Chegávamos a fazer uns 100 mil cartões por dia", conta.

-

PASSO A PASSO DO BILHETE ÚNICO MENSAL

1. No site bilheteunico.sptrans.com.br é necessário fazer cadastro com os dados pessoais e foto digital 3x4

2. O usuário também deve escolher uma das cinco estampas disponíveis e o local onde irá retirar o cartão (postos da SPTrans ou terminais de ônibus)

3. Quem já havia feito cadastro quando as estampas não estavam definidas deve entrar no site de novo para fazer a escolha e definir o local de retirada

4. Após retirar o cartão, o usuário deve escolher um plano mensal (só ônibus ou só trilhos, por R$ 140, ou o integrado, por R$ 230) e fazer o pagamento nos postos ou no site da SPTrans

5. Com o primeiro uso do cartão, começa a contagem do tempo de validade (31 dias). Quem usar no dia 30 de novembro poderá usar o bilhete até a 0h de 30 de dezembro. A validade será informada toda vez que o usuário passar pela catraca

6. Em caso de perda ou roubo, o usuário deve informar imediatamente a prefeitura pelo telefone 156. O saldo remanescente será transferido para uma segunda via de cartão, ao custo de R$ 21

-

Após a gravação, os cartões são testados e associados a um dos usuários que se cadastraram no site da SPTrans. Em seguida, voltam para o fornecedor para a impressão da foto e do nome do usuário.

A personalização do cartão é a principal aposta da prefeitura contra as fraudes -ou seja, que um mesmo cartão seja de uso compartilhado.

No verso do bilhete virá impressa a frase: "A utilização deste cartão por terceiros é crime e os infratores estarão sujeitos às penas da lei".

Na prática, cobradores não devem conferir as informações dos passageiros, mas o sistema impede duas utilizações do cartão no mesmo ônibus antes de 30 minutos.

"Também haverá acompanhamento do hábito do usuário. Se forem detectados desvios, o cartão poderá ser bloqueado", afirma Farias.

INTERESSE

Cerca de 60 mil cartões já estão nos postos de entrega, mas apenas cerca de 4.000 usuários haviam retirado o bilhete até anteontem. Para usufruir da nova tarifa, eles ainda precisam escolher um plano mensal e efetuar o pagamento no site ou nos postos da SPTrans.

Para uso só em ônibus ou só no Metrô e CPTM, a tarifa mensal será de R$ 140. Para uso integrado nos três sistemas, o valor sobe para R$ 230.

A expectativa da prefeitura é de que o interesse pelo novo cartão cresça com a adesão de estudantes e de empresas, que pagam o vale-transporte. Juntos, eles representam 35% dos pagamentos.

A prefeitura encomendou 2,3 milhões de cartões, ao custo de R$ 1,76 cada, mais R$ 0,57 por personalização.

TESTES

No laboratório de testes, funcionários montaram equipamentos que simulam todos os modelos de catracas existentes nos ônibus e no sistema sobre trilhos. Bilhetes carregados com os diferentes planos são passados nos equipamentos para testar a integração dos programas.

A cada uso, a tela da catraca irá exibir quatro informações: o plano mensal escolhido, o tipo de pagamento (comum, vale-transporte ou estudante), a data de validade do crédito, e quantos dias de uso livre ainda restam.

Por terem mais memória, os novos cartões já estão prontos para as modalidades semanal e diária, que também fazem parte da promessa de Haddad mas não têm previsão de lançamento.

Segundo Farias, também está sendo estudada a possibilidade dessas duas tarifas serem compradas em cartões sem cadastro, o que liberaria seu uso pelos turistas.

Outra possibilidade do novo cartão é o uso até mesmo em outros serviços, como em cadastros de saúde pública, por exemplo. "Mas vamos implantar primeiro nos ônibus, e depois que estiver firmado, pensar nas outras possibilidades", diz o diretor da SPTrans.


Endereço da página:

Links no texto: