Após enfrentar resistências e acusações de segregacionismo, a Prefeitura de Salvador desistiu de criar um espaço exclusivo para o desfile dos blocos afro no Carnaval, o chamado Afródromo.
Ao anunciar as principais mudanças para a festa do próximo ano, nesta terça-feira (27), o prefeito ACM Neto (DEM) afirmou que os blocos afro --como Ilê Ayê, Muzenza e Filhos de Gandhy-- desfilarão no circuito do Campo Grande.
O trajeto será feito domingo, segunda e terça-feira de Carnaval, entre 18h30 e 22h, após o desfile dos blocos de trio, que começa às 12h.
Desta forma, o Afródromo será tratado como um novo "produto" dentro do Carnaval soteropolitano, mas inserido no circuito mais tradicional da festa. Ao todo, a capital baiana tem cerca de 200 entidades carnavalescas de matriz africana.
A proposta original previa a criação de um novo circuito, exclusivo para os blocos afro, com 2,5 km de extensão, no trecho entre a avenida da França e a Feira de São Joaquim, no bairro do Comércio.
Na época, a proposta foi criticada por parte dos dirigentes de blocos afro, incluindo o Olodum, com o argumento de que um novo circuito criaria um "apartheid" na festa.
Um dos idealizadores do Afródromo, o cantor e compositor Carlinhos Brown afirma que a mudança é resultado do diálogo entre prefeitura e entidades carnavalescas em curso desde fevereiro.
"O novo circuito é uma nova visão, não é um novo lugar. Aquela visão (anterior) estava deturpada. Conseguimos ordenar algo que estava perdido dentro de um ideal apenas comercial", disse Brown. "Queríamos uma miscigenação e não uma inclusão falsa", completou.
NOVOS ESPAÇOS
A principal novidade para a festa em 2014 será a redução de 7 km para 4 km do circuito oficial. Com isso, o desfile dos blocos ocorrerá entre o largo do Campo Grande e a praça Castro Alves, eliminando o trecho da rua Carlos Gomes.
A perspectiva é que o tempo do percurso seja reduzido para cinco horas, semelhante ao realizado no circuito Barra Ondina.
A prefeitura ainda anunciou a criação de dois novos espaços. Um deles será a vila da acessibilidade, na praça da Piedade --uma área exclusiva para pessoas com deficiência física.
Também será criada a vila da diversidade, no largo Dois de Julho, voltada para o público LGBT (lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e transgêneros) e com foco na música eletrônica. A iniciativa contou com o apoio do GGB (Grupo Gay da Bahia).