Folha de S. Paulo


Bebê que teria sido doado a casal pela mãe volta para casa, em BH

Um bebê de dois meses que teria sido entregue pela própria mãe a um casal de adolescentes no Rio de Janeiro voltou com o pai para Belo Horizonte na noite desta segunda-feira (25). A mulher está presa e, segundo a polícia, confessou ter mentido ao contar que a criança havia sido roubada de seus braços.

De acordo com a Polícia Civil, no sábado (23), a mãe, uma atendente de lanchonete de 19 anos, saiu de casa, em Contagem (região metropolitana de BH), e foi com o bebê até as proximidades do terminal rodoviário da capital mineira.

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De lá, ligou para o marido, um vigilante de 24 anos, e contou que um homem negro armado e um casal de orientais, que aparentavam ser chineses, haviam tomado a criança dela, à força.

O vigilante acionou a Polícia Militar, que fez buscas próximo à rodoviária, sem encontrar o suposto trio nem a criança.

Em entrevista à imprensa, ainda no sábado, a mãe chorou ao lado do marido ao repetir a mesma história.

Mas, na segunda-feira, durante novos depoimentos, policiais começaram a desconfiar da versão dela. "Uma pessoa que está em um local público e é abordada assim teria a reação de gritar, chamar a atenção. Mas ela disse que não fez isso porque eles estavam armados", disse o delegado Wanderson Gomes da Silva, chefe da Deoesp, divisão de operações especiais da Polícia Civil.

Com o sumiço da criança, familiares espalharam cartazes com o rosto do menino e um telefone para contato pela cidade e na internet. Ontem, receberam uma ligação dizendo que a criança havia sido vista no Rio de Janeiro.

Delegados comunicaram a Polícia Civil do Rio, que localizou a criança com um casal de adolescentes, ambos de 17 anos de idade.

Questionada pela polícia do Rio, a adolescente teria confessado que a mãe lhe doou a criança, sem nada cobrar, e a entregou no sábado, em Belo Horizonte. As duas se conheceram, segundo o delegado, um mês antes, em um site que propunha adoção de bebês.

Segundo a polícia, a adolescente havia perdido um bebê recentemente e por isso procurava outro filho.

Com as novas informações, a polícia mineira decidiu inquirir novamente a atendente de lanchonete. "Ela a princípio negou, depois deu informações parciais, mais depois admitiu que criou um e-mail para conversar com a adolescente", disse o delegado Silva.

Ainda na delegacia, a mãe abriu o e-mail e mostrou 97 páginas de conversas com a adolescente. Nas mensagens trocadas, segundo a polícia, ela dizia que queria doar o filho e que essa seria uma decisão difícil em sua vida. Nos últimos e-mails, depois do sábado, ela chegou a alertar a adolescente de que o menino estava sendo procurado pela polícia.

O vigilante, juntamente com policiais, foi ao Rio ontem e reconheceu o filho. Os dois voltaram a BH no mesmo dia.

A mãe foi levada para o Ceresp, unidade para presas provisórias na capital mineira. Ela deverá responder por falsa comunicação de crime e também pelo artigo 237 do ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente), de subtração de criança para colocar em família substituta. A pena prevista para esse crime é de dois a seis anos de reclusão.

A reportagem não conseguiu ouvir o vigilante. O delegado disse que até a tarde desta terça nenhum advogado havia se apresentado para defender a mãe.

A Folha não informou o nome dos pais para preservar a identidade do bebê.


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