Manifestantes bloqueiam na manhã deste sábado (16) um trecho da marginal Tietê, na altura da rua Anhaia, na região central de São Paulo, em protesto contra a reintegração de posse de um terreno ocupado desde julho.
As quase 240 famílias que ocupam o local, conhecido como favela da Estaiadinha, montaram barricadas com móveis, compensados de madeira e outros objetos, bloqueando a pista no sentido Ayrton Senna.
Vinte e três oficiais de Justiça e 150 policiais militares Polícia Militar participam da remoção dos moradores em cumprimento à ordem de despejo, autorizada pela Justiça nesta semana.
A área --que fica logo abaixo da ponte Governador Orestes Quércia, a chamada ponte Estaiadinha-- pertence à Prefeitura de São Paulo, que entrou com pedido de reintegração de posse do terreno há cerca de dois meses.
A Justiça determinou que os moradores saíssem do local em até 90 dias. A prefeitura, então, entrou com uma liminar que pedia a redução desse período, que foi aceita.
TRANSFERÊNCIA
As lideranças da ocupação afirmaram que as famílias deixarão o local para ir montar acampamento em frente ao prédio do Detran (Departamento Estadual de Trânsito), na avenida do Estado, com o objetivo de pressionar a prefeitura a dar uma alternativa de moradia para as famílias, que em sua maioria não têm para onde ir.
Guilherme Boulos, do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto), e uma comissão da ocupação negociam com o major da PM Genivaldo Antônio para que esse deslocamento ocorra de maneira pacífica, pois há muitas crianças e mulheres grávidas entre os despejados.
Segundo o oficial que coordena a remoção, Valdemir Aparecido Leme Maciel, eles entrarão nas casas para catalogar os bens das famílias. Cada uma receberá um documento com a relação de seus pertences. Cerca de 30 caminhões da prefeitura levarão os objetos para um galpão municipal.
A cabeleireira Silvana Arruda Melo Vieira, 41, grávida do sétimo filho, estava indignada com a proposta da prefeitura, que considera "indecente". "Não acredito que a prefeitura tenha um lugar para que os móveis documentados não sumam enquanto as famílias têm que ir para a rua. Se sumirem os nosso filhos, o que a gente faz? Bens materiais valem mais do que seres humanos", disse.
OUTRO LADO
A prefeitura afirma que vem cadastrando as famílias da ocupação da Estaiadinha em seus programas de habitação social desde o final de julho, integrando-as à meta de entregar 55 mil moradias até o fim da gestão.
Ainda não há um projeto para o terreno de cerca de 4.000 metros quadrados, mas a prefeitura afirma que ele não poderia ser ocupado por casas, por se tratar de uma área de risco, localizada embaixo de um viaduto.
A subprefeitura da Sé afirma que agentes da Subprefeitura, oficiais de justiça e PMs vão encaminhar as famílias para abrigos públicos e para casa de parentes mais próximos.