Folha de S. Paulo


'Por que?', perguntam artistas em vídeo que lembra morte de jovem

"Por que o sr. atirou em mim?". É esta a pergunta feita por artistas e ativistas em um vídeo lançado no último domingo --a mesma que Douglas Rodrigues, 17, fez ao policial militar Luciano Pinheiro Bispo ao receber no peito um tiro disparado por ele no último dia 27, na Vila Medeiros, zona norte de São Paulo.

Douglas morreu e o PM, preso em flagrante por homicídio culposo (sem intenção de matar), teve liberdade provisória concedida pela Justiça Militar.

No vídeo, artistas como os rappers Emicida, Rashid, Rael da Rima, Flora Matos, Dexter e KLJ, do Racionais MCs e o funkeiro MC Guimê emendam a pergunta, feita em primeira pessoa, com a mesma questão colocada na primeira pessoa do plural: "Por que vocês atiram em nós?"

Vídeo

"Aquele garoto é um Emicida. E mudar sua pergunta é uma forma de mostrar que não se trata de um caso isolado", diz Emicida, que admite já ter sentido na pele abordagens violentas de PMs.

"Minha cor, minha classe social e minha faixa etária são alvo preferencial da polícia nas periferias do país. A sociedade precisa se posicionar contra isso", completa.

O manifesto que acompanha o vídeo é assinado por 17 entidades e convoca pessoas para um ato na próxima quarta-feira, às 18h, na Escola Estadual Professor Victor dos Santos Cunha (r. João Simão de Castro, 280, zona norte).

"A morte de Douglas tornou mais evidente para a sociedade a violência com que a polícia age desde sempre em bairros periféricos", diz Douglas Belchior, conselheiro da UneAfro, uma das signatárias do manifesto, que reproduz dados do levantamento feito pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

Segundo a entidade, em 2012, 1.890 pessoas morreram nas mãos de policiais no Brasil, ou seja, cinco por dia, em média. Nos EUA, cuja população é 60% maior que a brasileira, o total de mortos pela polícia em 2012 foi de 410.

"Os números são muito expressivos. Vivemos sob um Estado historicamente violento, que naturaliza a morte de negros e de pobres", afirma Belchior.

Os artistas que participam do vídeo e os pais de Douglas Rodrigues, o rapaz morto na Vila Medeiros, devem participar do ato que pede a desmilitarização da polícia e o fim de abordagens violentas contra jovens e negros.


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