Folha de S. Paulo


Análise: Kassab manterá apoio a Dilma mesmo após rebater Haddad

A forma agressiva com que Gilberto Kassab respondeu ao sucessor, Fernando Haddad, em entrevista à Folha nesta segunda-feira, não deve ser lida como um rompimento com o PT. O ex-prefeito de São Paulo e presidente nacional do PSD está firme, por enquanto, no propósito de apoiar formalmente a reeleição da presidente Dilma Rousseff.

Para dar uma demonstração de que não mistura a condução do partido --criado em 2011 com dissidentes de várias outras siglas, a maioria deles disposta a integrar o bloco governista-- Kassab pretende fazer com que o PSD seja o primeiro partido a anunciar oficialmente que integrará a coalizão dilmista em 2014.

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Para que o plano corra conforme o roteiro, no entanto, o PT sabe que terá de fazer ajustes na relação política com o aliado. O PSD tem para agregar à propaganda de Dilma pouco mais de um minuto. É um latifúndio em se tratando de tempo de TV --na aliança que vai se construindo, só perde para PT e PMDB.

Os petistas sabem que não podem prescindir desse ativo numa eleição que promete ser encarniçada, com dois adversários com forte potencial de crescimento, como Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB).

Kassab tem uma relação fria, por vezes conflituosa, com o senador tucano, o que dificultaria que fizesse o caminho de volta para a órbita do PSDB, mas é muito próximo do governador de Pernambuco. Aliados de Campos vislumbraram na briga com Haddad uma brecha para tentar atrair o ex-prefeito para a aliança com ele.

O ex-prefeito, no entanto, costuma conferir grande importância ao fato de o governo federal ter ajudado no processo de criação do PSD. No Congresso, poucas legendas costumam votar tão fielmente com o governo, a despeito da retórica de que a bancada é "independente" e não compõe formalmente a base.

O PSD ainda tem um de seus principais dirigentes, o vice-governador de São Paulo, Guilherme Afif, no primeiro escalão de Dilma, embora, novamente, valha a retórica de que ele integra a "cota pessoal" da presidente.

Em resumo: Kassab está bem amarrado com o Planalto, embora em todos os seus passos políticos sempre deixe abertas algumas brechas de fuga, como essa propalada independência. Isso será diferente se e quando ele anunciar publicamente que estará com Dilma em 2014. Dada a maneira como o ex-prefeito atua, a partir daí será difícil retroceder.

A forma como ele respondeu a Haddad é inusual em seu comportamento político e emblemática da irritação com que Kassab vê a tentativa de carimbá-lo como envolvido com a máfia dos auditores descoberta na prefeitura.

Nos primeiros dias que se sucederam ao escândalo o ex-prefeito evitou responder duramente e elogiou a investigação, pois não queria "passar recibo" de que sua gestão é que estaria no foco.

Mas dados a escalada retórica de Haddad e os vazamentos que denotavam suposta proximidade entre a quadrilha e o próprio ex-prefeito e seus secretários, Kassab quebrou o silêncio e contra-atacou de forma violenta.

O ex-presidente Lula e dirigentes nacionais e locais do PT já estavam muito incomodados na semana passada com os desdobramentos políticos que a investigação poderia ter. Haddad foi chamado duas vezes por Lula para ajustar o tom de suas declarações, mas, como se viu no fim de semana, pouco adiantou.

O prefeito deu uma entrevista à Folha em que disse que encontrou uma situação de "descalabro" e "degradação" na prefeitura. Disse, ainda, que seria "covardia" medir os ganhos éticos da atuação da Controladoria-Geral do município com eventuais prejuízos políticos da operação.

A escalada retórica de um levou o outro a responder na mesma moeda. Dado clima de confronto, os bombeiros do PT vão entrar em cena imediatamente para acalmar Kassab e evitar que ele deixe a órbita dilmista. Devem ser escalados na operação o pré-candidato do partido a governador e ministro da Saúde, Alexandre Padilha, e o presidente estadual do PT, Edinho Silva, um dos dirigentes petistas com melhor trânsito junto a Kassab.


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