Folha de S. Paulo


Polícia do Rio ouve suspeitos de provocar tiroteio em fórum; menino e policial morreram

Seis suspeitos de provocar o tiroteio de ontem no Fórum de Bangu, quando um policial e uma criança morreram, estão sendo ouvidos hoje pela polícia do Rio de Janeiro.

A Polícia Civil informou que as imagens das câmeras de vídeo do fórum estão sendo analisadas para auxiliar na identificação do grupo, que invadiu o local no fim da tarde desta quinta-feira para tentar resgatar presos.

Os criminosos tentaram resgatar o traficante Alexandre Bandeira de Melo, o Piolho, 40. Ele era chefe do tráfico de drogas no Morro do 18, na zona norte do Rio, e integraria a facção criminosa ADA (Amigo dos Amigos).

O criminoso foi levado ao fórum para prestar depoimento apenas como testemunha. Ele está detido no presídio de Bangu 4.

O juiz Alexandre Abrahão, da 1ª Vara Criminal de Bangu, deveria ouvir hoje 23 detentos que respondem a um processo sobre tráfico de drogas em que o principal alvo é a facção de Piolho, a ADA. O ataque ao fórum de Bangu surpreendeu as autoridades já que a segurança no local havia sido reforçada.

Aliás, o local vive em constante vigilância já que o juiz Alexandre Abrahão é um dos magistrados do TJ do Rio que está sob ameaça de morte.

Segundo o 14º BPM (Bangu), oito bandidos divididos em três carros tentaram invadir o fórum. PMs próximos ao local trocaram tiros com o grupo, que fugiu. Nem Piolho ou qualquer outro criminoso que estava no interior do fórum foi resgatado.

Policiais civis suspeitam que os criminosos tentariam ainda resgatar Vanderlan Gomes da Silva, conhecido como Chocolate. Também do ADA, ele seria do grupo que ocupa o morro da Pedreira, na zona norte do Rio.

Tanto Piolho como Chocolate estão presos em Bangu 4 e serão transferidos para a unidade de segurança máxima de Bangu 1.

Piolho tem seis mandados de prisão, entre eles por tráfico de drogas, homicídios, roubo e formação de quadrilha.

Policiais do Bope (Batalhão de Operações Especiais) foram chamados ao local para reforçar o policiamento e auxiliar na transferência dos traficantes do interior do fórum de volta ao sistema penitenciário do Rio a cerca de 20 quilômetros do local.

POLICIAMENTO REFORÇADO

A Polícia Militar reforçou ontem e hoje o policiamento nas comunidades da Selvinha, Comunidade da Rua 1, Curral das Éguas, Batanzinho, 77 e Minha Deusa. Na operação, iniciada de madrugada, a PM apreendeu 3.273 sacolés de cocaína, 2.286 pedras de crack, dois carregadores, uma pistola, 39 munições e recuperou uma moto

O Fórum de Bangu está isolado para ser periciado e o policiamento está reforçado no entorno. Muitos curiosos se aproximam do cordão de isolamento, comentando a ação violenta ocorrida na tarde de ontem. "De repente, um carro parou na calçada ao lado do fórum. Homens desceram armados e mandaram tirar as crianças da rua, porque eles só queriam policiais. Aí, foi tudo muito rápido. Muito tiro, correria, gritos e vimos a criança caída, sangrando muito na cabeça", contou um comerciante, dono de loja ao lado do fórum.

O delegado Alan Costa, da Divisão de Homicídios, que esteve no fórum na noite de ontem, disse que a tentativa de resgate dos presos que estavam em audiência teve a participação de muitos homens, sendo que apenas três entraram no fórum. "Dá para ver claramente o rosto dos três nas câmeras", disse.

O menino Caio da Silva Costa, 8, atingido durante o fogo cruzado entre a polícia e os bandidos, seguia com a avó, Rosana, para a escolinha de futebol do Bangu, a cerca de 100 metros do fórum. A avó foi atingida na orelha direita por estilhaços.

A Secretaria de Saúde do Estado informou que o outro policial militar atingido no abdome foi operado e seu estado de saúde é grave. A mulher também ferida na barriga está em estado estável. Os dois estão internados no Hospital Estadual Albert Schweitzer, em Realengo.

VELÓRIO

Pelo menos 200 pessoas participam do velório do menino a capela Moça Bonita, em Bangu.

Na capela, a família e colegas do garoto não deram entrevistas.
O sargento PM Alexandre Rodrigues de Oliveira, que morreu no confronto, estava lotado no batalhão de Bangu e tinha 18 anos na corporação. O sargento será sepultado, na tarde de hoje, às 16h, no Cemitério Jardim da Saudade, em Sulacap, zona oeste da cidade.

Após o enterro, amigos da família farão uma manifestação no local onde a criança caiu baleada.


Endereço da página: