Folha de S. Paulo


Menos de 0,1% dos bilhetes aéreos do período da Copa foram vendidos, diz Anac

Após reunião hoje entre representantes do governo e das empresas aéreas sobre os preços das passagens aéreas na Copa de 2014, o diretor da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil), Marcelo Guaranys, afirmou que menos de 0,1% dos bilhetes aéreos oferecidos pelas empresas no período do evento foram vendidos.

A reunião foi convocada após reportagem da Folha mostrar que os preços das passagens aéreas para o período da Copa de 2014 já estava próximo dos R$ 2 mil. A presidente Dilma Rousseff determinou a formação de um comitê interministerial para monitorar abusos de preços durante a Copa de 2014.

Após a reunião foram assumidos três compromissos entre as companhias e o governo. O primeiro é que a Anac vai monitorar os preços nesse período da Copa. O segundo é que as empresas vão apresentar 15 dias após o sorteio das chaves da Copa, que acontece em seis de dezembro, os pedidos de mudanças na malha aérea para o evento. E o terceiro é que haverá um texto no site das empresas nos próximos dias alertando que a malha aérea vai mudar no período.

Segundo Guaranys, a partir de janeiro, com a nova malha aérea definida, será possível uma melhor oferta de voos e redução de preços. Segundo o representante das empresas aéreas, Eduardo Sanovicz, o período da Copa deverá ter uma redução do número de passageiros frequentes dos voos (passageiros de negócios e de eventos), o que também poderá influenciar nos preços das passagens.

"O compromisso das empresas aéreas é atender toda a demanda da Copa com qualidade", afirmou Sanovicz.

Pelo governo, participaram do encontro o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, o presidente da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil), Marcelo Guaranys, e o presidente da Embratur, Flávio Dino. As empresas foram representadas pelo presidente da Abear (Associação Brasileira das Empresas Aéreas), Eduardo Sanovicz, e pelos representantes das quatro maiores companhias de aviação civil do Brasil, TAM, Gol, Azul e Avianca.

Desde 2002, os preços das passagens aéreas no Brasil deixaram de ser tabelados e são estipulados pelas companhias aéreas de forma livre. Como atuam sem restrições, elas tendem a cobrar mais caro nos períodos de maior demanda e mais barato nos períodos de baixa procura. Além disso, as vendas antecipadas também costumam ser mais baratas que as feitas próximas à data da viagem.

No governo há duas correntes em que trabalham em sentidos opostos em relação ao preço das passagens aéreas. O presidente da Embratur, Flávio Dino, lidera um movimento para controlar os preços das aéreas pois acredita que as companhias abusam dos aumentos nos momentos em que os passageiros mais necessitam voar, além de impor preços elevados a regiões remotas do país.

Já o diretor da Anac, Marcelo Guaranys, lidera o grupo que defende a manutenção da política de liberdade tarifária. A alegação do grupo é que essa política levou à redução dos preços das passagens ao longo da década passada e proporcionou o aumento da participação das camadas mais pobres na aviação civil.

O fato é que o preço pago pelos passageiros, medida usada pela Anac para monitorar o preço das passagens, vinha caindo no Brasil fortemente até 2011. A partir de 2012, os preços começaram a subir e estão em forte elevação desde o início deste ano. Isso decorreu de três fatores principais.

O primeiro foi a falta de espaço nos principais aeroportos do país, causada pelo atraso nos investimentos públicos na ampliação de unidades como Guarulhos (SP), Campinas (SP) e Brasília (DF). Esses aeroportos, que concentram o maior número de passageiros, não têm espaço para receber mais voos e, naturalmente, o preço ao passageiro vem aumentando.

O segundo motivo foi o aumento do dólar, que tem forte impacto nas empresas por elas terem dívidas e compras feitas nessa moeda, e do combustível, que representa aqui cerca de 40% do custo de uma companhia.

O outro fator é que houve uma forte concentração de mercado com a aquisição de empresas umas pelas outras. Hoje, as 4 principais companhias têm 99% do mercado e já não têm mais estímulo para disputar mercado reduzindo preços.

As empresas aéreas, que vivem situação financeira complicada há três anos, tentam conseguir mais benefícios do que já tiveram, como mudança de cálculo no preço do combustível e redução de impostos, sempre que se inicia a discussão sobre o preço das passagens.

Mas, para os técnicos do governo no setor, a única solução viável a curto prazo para o setor será aumentar o limite da participação estrangeira em companhias nacionais, hoje em 30% do capital. Dessa forma, avaliam eles, poderia haver mais disputa e as atuais empresas poderiam receber investimentos para sair da crise financeira.


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