Folha de S. Paulo


Preso em operação foi nomeado diretor da SPTrans na gestão Haddad

O auditor fiscal Ronilson Bezerra Rodrigues, preso nesta quarta-feira (30) sob a suspeita de participar de esquema de fraude na Prefeitura de São Paulo, ocupou importante cargo na gestão Fernando Haddad (PT) entre fevereiro e junho deste ano.

Rodrigues foi nomeado diretor de administração e finanças da SPTrans (empresa que gerencia o transporte municipal) em fevereiro, quando já uma havia investigação formal contra ele.

Auditores são acusados de desviar R$ 500 mi
"São técnicos, nenhum indicado por mim", diz Kassab

A gestão Haddad alega que a nomeação ocorreu no início do ano, "antes da realização da análise patrimonial e da suspeita de enriquecimento ilícito" contra Rodrigues. Essa análise ocorreu em março, quando o "funcionário passou a ser monitorado".

"Ficou decidido que sua exoneração, naquele momento, poderia 'alertar' o suspeito a respeito da investigação", afirma a prefeitura em nota.

A Prefeitura de São Paulo deu detalhes da operação contra os servidores municipais em nota divulgada no seu site hoje, mas não citou a ligação de Rodrigues com a atual administração petista. Sem citar nomes, diz que ele foi exonerado na prefeitura em dezembro de 2012.

Nesses cinco meses à frente das finanças da SPTrans, Rodrigues tomou conta de um caixa que movimenta mais de R$ 6 bilhões por ano. Uma das críticas recorrentes ao transporte público da capital, nas manifestações de junho deste ano, foi a suposta "caixa preta" dessas movimentações na SPTrans.

Editoria de arte/Folhapress

O auditor fiscal preso hoje era investigado pela prefeitura desde setembro de 2012, quando era subsecretário da Receita Municipal na gestão Kassab.

A investigação formal, segundo o ex-corregedor Edilson Mougenot Bonfim, foi aberta após uma denúncia anônima de suposto enriquecimento ilícito de Rodrigues, que prestou esclarecimentos ao órgão. "Ele alegou inocência. Mas não me convenceu. Por isso a investigação continuou", disse Bonfim.

Ainda de acordo com ex-corregedor, o procedimento contra o servidor continuava aberto quando Haddad assumiu a prefeitura. Assim, para ele, não há como gestão atual alegar desconhecimento das suspeitas contra o ex-subscretário.

A gestão Haddad confirma que havia de fato uma investigação contra o servidor, mas afirmou que se tratava de um "expediente" que "se limitou a ouvir o investigado" em setembro de 2012. "Nenhum encaminhamento foi dado à época, e o processo ficou parado", diz a nota.

Afirma, ainda, que as "informações dessas apurações não foram consideradas para a operação que foi deflagrada hoje".

O ex-secretário de Finança da gestão Kassab Mauro Ricardo afirmou à Folha que nunca desconfiou de irregularidades de seu funcionário. "Será uma decepção muito grande, se esses fatos ficarem comprovados", disse. Ricardo afirmou ainda que Rodrigues foi exonerado no final do ano passado por insubordinação. Ele se revoltou com a gestão pela investigação em aberto e se dizia injustiçado.

Editoria de arte/Folhapress

INVESTIGAÇÃO

Quatro ex-funcionários da prefeitura foram presos nesta quarta-feira suspeitos de um desvio milionário que pode chegar a pelo menos R$ 500 milhões. O Ministério Público comprovou um rombo de R$ 200 milhões ao longo de três anos. Mas a administração municipal estima que a fraude chegue a R$ 500 milhões pelo tempo em que o grupo atuou no esquema desvendado.

A operação de hoje, chamada de "Necator" (um tipo de parasita) pela prefeitura, foi iniciada pela administração de Fernando Haddad (PT), mas atinge funcionários da gestão de seu antecessor, Gilberto Kassab (PSD).

Os funcionários são acusados de integrar uma quadrilha que recebia propina de grandes construtoras para fornecer a elas certidões de quitação de ISS (Imposto Sobre Serviço) sem que pagassem tudo o que era devido. O documento precisa ser emitido para que as construções obtenham o Habite-se da prefeitura.


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