Folha de S. Paulo


Famosos lideram manifestação convocada para amanhã no Rio

Pela primeira vez desde o início das manifestações em junho no Rio, um grupo de artistas liderou a convocação para um protesto de rua. A mobilização, marcada para amanhã à tarde, ganhou uma página de divulgação no Facebook batizada de "Grito da Liberdade".

Em uma das publicações do grupo recém-criado na rede social, aparece o vídeo com a participação de artistas como Wagner Moura, Camila Pitanga, Mariana Ximenes, Leandra Leal e Marcos Palmeira.

São 16 depoimentos, em poucos mais de 5 minutos, a favor dos protestos de rua. Os entrevistados criticam a violência associada à repressão policial, as prisões de manifestantes consideradas arbitrárias e a abordagem da mídia na cobertura das manifestações.

Vídeo

Há ainda uma outra mensagem, iniciada com a pergunta "Quem somos nós?", que apresenta uma lista de 49 grupos engajados na divulgação do "Grito de Liberdade", entre eles coletivos culturais, movimentos sociais e representações estudantis.

O protesto será iniciado às 15h, diante do Fórum, na avenida Antônio Carlos, no centro do Rio.

De acordo com uma ilustração publicada no Facebook, a passeata vai até a Igreja da Candelária, segue pela avenida Rio Branco, passa pela praça da Cinelândia e deve terminar próxima aos Arcos da Lapa.

Além de artistas globais, o vídeo de divulgação do protesto conta com a participação do poeta Chacal, do juiz da 1ª Vara de Órfãos e Sucessões do Rio, João Batista Damasceno, e do coordenador geral do Instituto de Direito da PUC-Rio, Adriano Pilatti.

Ao criticar a cobertura dos meios de comunicação, a atriz Bianca Comparato destaca a importância simbólica dos alvos escolhidos nas depredações realizadas durante os protestos.

"Só reportam o que foi quebrado, o que foi destruído, e também acho que também tem de parar para pensar o que está sendo destruído. São casas de pessoas, como quando a polícia joga uma bomba de gás dentro de um apartamento? Não. São lugares simbólicos", diz a atriz, em seu depoimento.

Boa parte das críticas é direcionada a ação do governo nos protestos.

"Uma manifestação é um organismo vivo. Ali são acoplados diversos sentimentos. O governo, o Estado, tem que estar preparado para lidar com isso", afirma Wagner Moura.

"Essa violência absurda da polícia contra a população, botando todo mundo no mesmo balaio. São duzentas pessoas presas politicamente [no Rio]. Isso é uma loucura em 2013", afirma Marcos Palmeira.

O poeta Chacal critica a maneira como a polícia tem reprimido os manifestantes. "É um absurdo que no Brasil, no Rio de Janeiro, o dinheiro dos impostos seja devolvido à bala e à bomba", afirma.

A atriz Camila Pitanga questiona a escalada da violência nos protestos de rua e demonstra preocupação com as consequências dela no futuro.

"A violência vai chegar até que ponto? Vão precisar ter mortes? Porque porrada já tá rolando. Pessoas sendo machucadas já está rolando. Agora já têm prisões. Daí vai para onde?", diz.

Leandra Leal coloca parte da responsabilidade da violência na conta do Estado, ao afirmar que a violência é reflexo de governos que não dialogam com a população.

"Se o Estado tivesse preocupado em desenvolver políticas públicas em diálogo com a população. Se estivesse preocupado em entender o que está por trás dessas manifestações, quais são as pautas, a gente agora não estaria vivendo esse momento de violência", afirma.

MÍDIA

Há críticas à maneira como a mídia em geral retrata os protestos de rua e também como se refere aos manifestantes, muitas vezes classificando-os como vândalos.

Alámo Facó, que faz parte do elenco da novela "Amor à Vida", da TV Globo, afirma que as pessoas que não estão na rua têm dúvida de como opinar sobre o que está acontecendo com base apenas no que leem e veem nos jornais.

"A própria imprensa taxando todos como criminosos [tem sua parcela de responsabilidade]", afirma Camila Pitanga logo após a fala de Facó.

"As pautas não podem ser perdidas nem confundidas. Acho que a mídia tá manipulando essa visão do que que está acontecendo na rua", afirma Georgiana Góes, atriz que interpretou a personagem Fifi na mini-série "Saramandaia", da TV Globo, exibida no mês passado.

"Essa história contada seria inacreditável, mas é o que a gente está vivendo e vendo nas mídias que escolhem falar a verdade", afirma Gisele Fróes, que atuou na novela "A Vida da Gente", exibida pela TV Globo em março do ano passado.

PRESOS

Os artistas finalizam o vídeo pedindo a liberação de todos os manifestantes presos até agora e convocando a população para o ato da próxima quinta-feira (31).

Marcos Palmeira fala em "anistiar os presos políticos". Chacal pede que "soltem esses meninos e essas meninas já, porque eles estão recuperando o mais humano do humano, que é o direito de sonhar".

O professor Adriano Pilatti, coordenador geral do Instituto de Direito da PUC-Rio, diz que a ameaça a democracia não está nos manifestantes e sim com quem faz a repressão.

"A ameaça à democracia, a ameaça à liberdade, a ameaça ao livre exercício do direito não está nos manifestantes. Está nos interesses escusos por trás da repressão"

A Folha solicitou entrevistas a Marcos Palmeira, Camila Pitanga, Bianca Comparato e Leandra Leal, mas não obteve respostas afirmativas até o fechamento desta edição.


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