Folha de S. Paulo


'Quem roubou não era amigo do Douglas, era bandido', diz pai de jovem morto por PM

Atos de violência como incêndio a caminhões e ônibus, motoristas roubados e lojas saqueadas na zona norte de São Paulo foram provocados por "bandidos infiltrados", e não por amigos de Douglas Rodrigues, 17, morto após ser atingido pelo tiro de um PM.

A afirmação foi feita à Folha pelo caminhoneiro José Rodrigues, 44, pai do jovem.

Ele não sabe quem organizou os protestos que se espalharam em vários bairros. Conta que acompanhou um próximo de casa, mas que viu as ações violentas pela TV.

"Eu estava assistindo pela televisão e colocaram fogo em um monte de caminhão na Fernão Dias. Que culpa tem o rapaz do caminhão? Não era amigo do Douglas quem estava lá roubando. Eram bandidos infiltrados."

Leia trechos da entrevista:

Folha - O senhor imaginou que o protesto pudesse tomar aquela proporção?

José Rodrigues - Negativo. No velório tinha mais de 500 pessoas. Eu não sabia que ele tinha tanto amigo. Tinha muita gente que conhecia ele, até a professora da primeira série apareceu. Fazia 17 anos que ele morava no bairro. Eu, há 44 anos.

O senhor sabia que haveria aquela manifestação? Alguém chegou a comentar?

Não. Sobre a manifestação, esse negócio de quebra-quebra, eu sou totalmente contra, porque as pessoas não têm culpa, donos de loja, caminhoneiros. Eu também sou caminhoneiro.
Eu estava assistindo pela televisão e colocaram fogo em um monte de caminhão na Fernão Dias. Que culpa tem o rapaz do caminhão?

A população já está cansada. Agora, quem estava roubando era quem não prestava. Não era amigo do Douglas quem estava lá roubando. Eram bandidos infiltrados.

Aqui na rua colocaram fogo em pneus e por aqui ficou. E policiais dando tiro, bombas de gás lacrimogêneo. Estourou uma perto de mim que eu não conseguia nem respirar. Tem colega todo marcado [de bala de borracha].

A maioria dos que organizaram os atos eram vizinhos ou amigos do Douglas?

Não dá para saber. Eu estou há quase três dias sem dormir. Foram cinco bairros, todas as ruas com barricadas de fogo. A família e conhecidos próximos nem imaginavam a repercussão que ia dar.

Pô, meu filho perguntou para o policial: 'Por que o senhor fez isso comigo?". O policial não mandou ele parar e colocar a mão na cabeça. O irmão menor estava ao lado, se ele fosse maior teria ido junto e o policial teria levado meus dois filhos.

A presidente Dilma Rousseff comentou o caso hoje...

Agora que a presidente viu vamos ver se vai tomar providência e que ajuda a gente vai ter. E qual será a atitude do governo do Estado. Lá no velório não apareceu ninguém. Não veio um psicólogo, ninguém dos direitos humanos.

O menino está aqui com a irmã dele de 5 anos, nenhum deles dormiu à noite. Ele está traumatizado e não tem nenhum psicólogo. Os avós também estão muito mal.

O sr. acha que esse crime teria ocorrido se seu filho fosse abordado em uma área nobre?

Com certeza não. O policial ia pensar duas vezes antes de atirar.

Rivaldo Gomes/Folhapress
José Rodrigues, 44, segura a identidade do filho Douglas que foi baleado e morto por um policial militar no último domingo
José Rodrigues, 44, segura a identidade do filho Douglas que foi baleado e morto por um policial militar no último domingo

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