Folha de S. Paulo


Partido de Kassab se rebela e ameaça votar contra aumento do IPTU em SP

O PSD, partido do ex-prefeito Gilberto Kassab e com a terceira maior bancada da Câmara de São Paulo, ameaça não votar a favor do projeto que aumenta o IPTU nos próximos anos. O texto deve ir à votação final até amanhã.

Em e-mail enviado à Folha, a líder do partido, Edir Salles, disse que a bancada vai votar contra as mudanças no IPTU. Na primeira votação, o partido rachou. Apenas José Police Neto e Marco Aurélio Cunha foram contrários ao reajuste de até 20% (residências) e 35% (demais) em 2014. Os limites máximos de aumento caem para 10% e 15% nos anos seguintes.

Com a mudança, a gestão Haddad corre o risco de sofrer sua maior derrota, vendo seu mais importante projeto ser rejeitado --com o novo IPTU o governo espera aumentar sua arrecadação no ano que vem em pelo menos 21% em relação a este ano. O último reajuste foi em 2009, durante a gestão Kassab.

Isso porque o PSD tem oito vereadores. Se todos votarem contra, dos 31 que votaram a favor na primeira votação, restarão 25 votos insuficientes para aprovação.

No entanto, o PT conta como certos os votos de Wadih Mutran e Pastor Edmilsomn (PP) e George Hato (PMDB), que não votaram na semana passada. Na soma dos favoráveis, a base aliada de Haddad ficaria com os exatos 28 necessários para aprovar, quase sem margem caso um vereador mude seu voto de última hora.

"A vereadora Edir Sales, líder do PSD, informa que tanto ela quanto a bancada irão rejeitar o projeto do IPTU. E informa também que o partido não negocia cargo a troco de voto", disse a líder do partido, em comunicado enviado à reportagem. Ela, porém, não deu maiores explicações sobre a razão de ter mudado seu voto desde a primeira votação, na semana passada.

O impacto negativo perante eleitores pode fazer até mesmo os vereadores da ala evangélica do PSD mudarem de voto. Souza Santos, Marta Costa e Davi Soares receberam críticas em seus redutos eleitorais, especialmente dos comerciantes, por isso, a mudança de lado.

Historicamente, evangélicos votam com o governo para garantir agilidade na obtenção de alvarás para ampliação de igrejas as quais representam.

Goulart, um dos mais votados do PSD, também disse a interlocutores nesta manhã que votará contra. "Esse aumento vai ser muito pesado para comerciantes", disse.

Hoje a Folha informa que a base de apoio de Haddad está negociando maior atuação de partidos aliados na gestão. Vereadores pedem mais cargos e verbas em subprefeituras ligadas a seus eleitores, além de maior espaço em secretarias. Entre os que vêm cobrando essa maior participação estão PSD e PMDB.

A Folha apurou que a liderança do PT quer colocar o projeto em votação ainda hoje. A rebelião deixou preocupados ontem os secretários responsáveis pela articulação para votação dos projetos de Haddad, como Antonio Donato (Governo) e Relações Governamentais (João Antonio).

AUMENTO MENOR

Para conseguir a aprovação, Haddad já aceitou reduzir os limites de aumento de 30% para 20% para imóveis residenciais e de 45% para 35% nos demais casos em 2014.

Nos reajustes dos anos seguintes, previstos para imóveis que tiveram alta valorização, o teto cai mais: 10% e 15%, respectivamente. Outra concessão é a ampliação de benefícios a aposentados.

Antonio diz que "pequenos ajustes" ainda podem ocorrer. A mudança aconteceu após a Folha revelar que, de acordo com o texto antigo, 45% dos eleitores pagariam aumentos seguidos após 2014.

Eles alegam que o reajuste trará repercussão negativa entre seus eleitores. Pesquisa Datafolha mostra que 89% dos paulistanos são contra a alta do imposto. Dentro da própria prefeitura, o receio é que parlamentares "voltem atrás".

Vereadores a favor do projeto dizem ter recebido, na sexta-feira, críticas de eleitores --houve muitas ligações para os gabinetes, afirmaram.

Parlamentares de pelo menos três partidos ouvidos pela reportagem que votar a favor do IPTU tem um ônus muito grande perante eleitores, por isso, querem, além de contrapartida, mais mudanças no projeto que diminuam ainda mais o impacto no bolso dos contribuintes.


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