Folha de S. Paulo


PMs contam que foram obrigadas a ocultar provas no caso Amarildo

Quatro soldados, todas mulheres, contaram ao Ministério Público estadual do Rio que receberam ordens de policiais superiores para ocultar provas da tortura a que foi submetido o ajudante de pedreiro Amarildo de Souza, 43, em 14 de julho passado. As revelações foram feitas pela TV Globo e exibidas na manhã desta segunda-feira (28).

Até o momento, 25 policiais, lotados na UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) da Rocinha foram denunciados pelo desaparecimento de Amarildo. Deste total, 13 estão presos e outros 12 respondem em liberdade. Todos os presos negam as acusações de que teriam torturado o ajudante de pedreiro e ocultado o seu cadáver.

Polícia e Promotoria apuram se carro do Bope transportou o corpo de Amarildo
Justiça mantém transferência de major preso pela morte de Amarildo

Demorou pouco mais de três meses para que as quatro policiais prestassem depoimento contra os PMs da UPP. Um delas disse que a tortura durou cerca de 40 minutos. Essa policial revelou ter ouvido gritos de socorro atrás da unidade. Então, neste momento foi até a frente da sala e colocou as mãos sobre os ouvidos para não ouvir o que estava acontecendo.

"Isso não se faz nem com um animal", teria dito na ocasião. Ela revelou que após as agressões praticadas pelos policiais, tudo ficou em silêncio. Então, ela disse ter ouvido risos. A policial foi denunciada sob suspeita de omissão à tortura. Segundo entendimento do Ministério Público estadual, ela e outros 11 PMs estavam no local e poderiam ter evitado a tortura contra o ajudante de pedreiro.

As soldados disseram que foram obrigadas pelos superiores a ficar dentro da sede da UPP, junto com outros colegas de farda. "Todo mundo ouvindo o que estava acontecendo, uma óbvia tortura ali. E aí uma das policiais fala: 'Com esse barulho não dá pra trabalhar'. Não é assim: 'O que está acontecendo? Alguém está sendo torturado?' É 'com esse barulho não dá pra trabalhar'.

O depoimento teria sido prestado pela policial Rachel de Souza Peixoto. Ela pertence ao grupo de 25 PMs que se tornaram réus no caso.

Após reclamar da situação, o major Edson Santos, então comandante da unidade, manda o tenente Luiz Felipe de Medeiros resolver a situação. Segundo o depoimento da policial, nenhum dos dois PMs demonstrou estar surpreso com o que acontecia atrás do contêiner da UPP onde estaria acontecendo a tortura.

Com os depoimentos, os promotores do Gaeco (Grupo Especial de Combate ao Crime Organizado) entendem que após a tortura à Amarildo de Souza o seu corpo foi enrolado em um plástico preto e retirado pelo teto de uma cobertura montada atrás do contêiner e levado para a mata.

O que foi feito com o corpo do ajudante de pedreiro ainda não foi revelado pelas investigações. Policiais da Divisão de Homicídios realizaram perícias no local em busca de indícios que apontassem o que pode ter acontecido com o corpo de Amarildo de Souza. No local onde o ajudante de pedreiro foi torturado, os policiais da UPP lavaram e criaram um depósito de equipamentos para dificultar as investigações.


Endereço da página:

Links no texto: