Folha de S. Paulo


'Papagaio de pirata' de funerais morre no Rio

Em uma tarde nublada, ontem, Jaime Dias Sabino, 87, chegou para ficar em um de seus locais preferidos: o cemitério São Francisco Xavier, na zona portuária do Rio.

Desta vez, Sabino morreu. Nas anteriores, ele aparecia como "figurante" de velórios e sepultamentos. Mesmo sem conhecer o falecido, caminhava até os familiares com ar consternado, manifestava seu pesar e permanecia postado próximo ao morto.

Não raras vezes, garantia a oportunidade de segurar em uma das alças do caixão até a cova. Comovidos, familiares nem se davam conta de fazer a pergunta óbvia: afinal, quem era aquele sujeito?

No jargão popular, Sabino era "papagaio de pirata", termo normalmente usado para designar pessoas que ficam atrás de jornalistas e fotógrafos com o objetivo de aparecer para as câmeras. Foi assim que ele se colocou em situações curiosas.

Sabino conduziu, por exemplo, os caixões do ex-jogador Didi (2001), da cantora Emilinha Borba (2005) e do ex-senador Artur da Távola (2008). Passou três dias na Bahia, onde acompanhou de perto a movimentação no velório de Irmã Dulce (1992). Acabou fotografado ao lado dos políticos Antônio Carlos Magalhães, ex-governador e senador pela Bahia, e José Sarney (PMDB-AL), hoje presidente do Senado.

Em entrevista a Jô Soares, Sabino disse ter comparecido às cerimônias fúnebres de Tim Maia, Cazuza e Chacrinha. Citou com satisfação o adeus à Hebe Camargo, a que teria assistido de perto.

Sabino, mais conhecido como Jaiminho, era por vezes tachado de inconveniente.

A reportagem da Folha chegou a encontrá-lo em fevereiro de 2013, quando um incêndio no apartamento do marchand Jean Boghici, em Copacabana, destruiu preciosidades de seu acervo.

Boghici saiu do local abatido. Ao se aproximar do carro para ir embora, eis que surgiu Sabino fazendo pose.

Uma repórter protestou: "Até aqui? Você não respeita ninguém?"

Sempre vestia ternos. Dizia ter mais de 200 modelos em sua casa no bairro do Rocha, na zona norte. "Eu uso terno e gravata até para dormir. Se eu morrer, não vou dar trabalho para ninguém. É só pegar e empurrar para dentro do caixão. Já tô prontinho, prontinho", disse.

Funcionário público aposentado, ele teve um infarto.

De terno branco, Sabino foi enterrado às 15h em uma sepultura na ala de gavetas do cemitério. Cerca de 80 pessoas estiveram na cerimônia.


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