A invasão do Instituto Royal na semana passada em São Roque vai atrasar ou comprometer o desenvolvimento de ao menos seis medicamentos, afirmou ontem a bióloga Silvia Ortiz gerente-geral da entidade.
Devido a acordos de confidencialidade com clientes, a pesquisadora afirma não poder revelar exatamente quais e quantas drogas tiveram seus ensaios interrompidos na semana passada.
Câmara acelera tramitação de projeto contra maus-tratos a cães
Retirada de beagles de instituto foi ato 'fora da lei', diz ministro
Ortiz diz, porém, que havia três fármacos com testes ainda em andamento --um em cães, um em coelhos e um em ratos-- todos prejudicados pelo rapto dos animais e depredação do prédio do instituto.
"Coelhos e cães foram levados, e os ratos ficaram, mas a qualidade sanitária do laboratório acabou comprometida", afirma a pesquisadora.
Outras duas drogas já haviam passado pela fase de teste, mas ainda era preciso concluir relatórios de pesquisa. Como computadores e documentos foram roubados, cientistas não sabem se conseguirão encerrar o trabalho.
SALA DE SUBSTÂNCIAS
Segundo Ortiz, ainda havia testes de medicamentos que sequer tinham começado, mas ficarão impedidos porque os ativistas saquearam a sala de substâncias do Royal.
"Às vezes a gente só recebe 2 mililitros de uma droga para testar", diz Ortiz. Segundo a bióloga, nem sempre é possível produzir prontamente uma nova dose da substância, que não é produzida em escala industrial antes da fase de comercialização.
As instalações depredadas ainda estão passando por vistoria, e o instituto ainda não avaliou o prejuízo financeiro ao todo.
Segundo João Antonio Pegas Henriques, diretor-científico do Royal e professor da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), é possível que o valor dos danos se aproxime da quantidade de verbas públicas federais que o instituto recebeu para projetos de inovação. Foram R$ 5 milhões da Finep (Financiadora de Estudos e Projetos), em 2012, e R$ 2 milhões do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico).
SEM COSMÉTICOS
Segundo Ortiz e Henrique, o Instituto Royal possui autorização para testar princípios ativos de cosméticos, mas nenhuma dessas substâncias é aplicada em animais, apenas em amostras de células em laboratório. Os testes in vitro são todos realizados na unidade da instituição que fica em Porto Alegre, não em São Roque.