Folha de S. Paulo


Análise: Reajustes em série expõem Haddad a risco político

A revelação de que 1,4 milhão de imóveis de São Paulo sofrerão reajustes em sequência do IPTU era tudo o que o prefeito Fernando Haddad (PT) não precisava num momento crucial do seu primeiro ano de governo.

Não se pode afirmar que o prefeito escondeu o seu plano. Está lá, no projeto enviado por ele aos vereadores, ainda que camuflado pela quase intransponível língua dos documentos públicos.

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Mas Haddad e seus auxiliares tampouco fizeram questão de dar publicidade à medida. A ordem dada à sua base na Câmara Municipal era clara: votar o IPTU o quanto antes, da forma mais indolor possível.

Há algumas razões para isso, todas, em maior ou menor grau, ligadas entre si e à onda de protestos pós-junho.

Alguns exemplos:

1) Em tempos de manifestações, "blackbloquianas" ou não, não convém dar chance ao azar. Basta uma fagulha para uma decisão impopular ganhar as ruas.

2) Com o aumento do IPTU, Haddad pretende compensar o congelamento da tarifa de ônibus, imposto pelos protestos. Se não for assim, ele terá que rebolar para achar outra fonte de financiamento.

3) Remédios amargam marcam, como bem sabe o prefeito. Num governo municipal com sua participação, Marta Suplicy (PT) ganhou da oposição a alcunha de "Martaxa" após propor o aumento de taxas. Pegou.

4) Tudo isso fatalmente desembocará no ano eleitoral de 2014, quando o PT tentará dar fim à hegemonia tucana no governo do Estado.

Haddad não anda no fio da navalha porque quer. Com a prefeitura em crise financeira, procurava saídas para tentar fazer o seu governo andar.

Sua estratégia buscava resolver a parada rapidamente e manter adormecidas algumas surpresas da caixinha de maldades do IPTU --pelo menos até o envio dos carnês.

Agora, além de se ver obrigado a dar explicações públicas, esticando o indesejado assunto, Haddad terá que lidar com as ameaças de rebelião de aliados --nessa negociação, como é sabido, não existe almoço grátis.

Terá de encarar tudo o que tentou evitar até aqui, dentro e fora de casa, aumentando os riscos políticos de uma operação que já era delicada.


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