Policiais militares agrediram, com socos e chutes, um porteiro de 37 anos na periferia de Campinas (a 93 km de São Paulo), durante uma operação policial em um bairro próximo ao aeroporto internacional de Viracopos na região sudoeste da cidade, a mais populosa.
Ele chegou a ser detido, com uma manicure de 23 anos. Os dois foram liberados após prestarem depoimentos.
Moradores do bairro DIC (nome que vem da antiga sigla Distrito Industrial de Campinas) filmaram a ação, ocorrida em 10 de outubro, e colocaram imagens da agressão na internet dois dias depois (veja abaixo). Procurado, o autor dos vídeos não respondeu um pedido de entrevista feito pela Folha.
Neles, é possível ver o rapaz sendo rendido e jogado no chão após levar um soco. Enquanto um dos policiais pisa sobre o rosto do porteiro, deitado, outro o chuta. Depois de um pisão no rosto, o homem parece desmaiar.
Pelo menos três policiais militares participam da ação. Um deles chega a apontar a arma para moradores que filmam a ação e é possível ouvir uma mulher dizer: "Eu tô filmando. Eu tenho todo o direito de filmar". Ao pedir para que as pessoas se afastassem, ela diz: "Somos moradores. Não é assim não".
Nos vídeos, é possível ouvir o disparo de pelo menos dois tiros e a explosão de três bombas. Crianças correm após o barulho da explosão.
OUTRO LADO
Em nota, a PM informou que "foi instaurada investigação preliminar para a devida apuração dos fatos".
Segundo a corporação, policiais tentaram abordar três indivíduos "em atividade suspeita", mas dois deles conseguiram fugir. O terceiro suspeito, no caso o porteiro, "desferiu um soco no rosto de um dos policial" e, com ele, foram encontradas quatro munições de calibre ponto 40, de uso restrito.
REVOLTA
Os moradores se revoltaram com a ação policial e, segundo a PM, passaram a atirar pedras contra um carro da polícia --a manicure de 23 anos foi detida sob acusação de ter causado dano ao veículo-- e derrubaram as motos dos policiais.
De acordo com boletim de ocorrência registrado no 1º DP da cidade, os policiais afirmaram que estavam fazendo patrulha na região, onde existem pontos de droga, e "precisaram usar força moderada" para segurar o porteiro.
Testemunhas que estiveram na delegacia contestavam a versão policial. Três pessoas afirmaram que o rapaz lavava seu carro sozinho, e "os policiais foram truculentos e agressivos sem necessidade". "Quem se aproximava para pedir calma era ofendido e ameaçado", disseram em depoimento.
Eles apresentaram um DVD com imagens da ação, cápsulas de munição ponto 40 que teriam sido disparadas pela polícia e resíduos de granada que teriam sido atiradas contra a população.
INVESTIGAÇÃO
"Diante da pluralidade e do antagonismo das versões apresentadas", informou a Polícia Civil no documento, não foi decretada prisão em flagrante dos detidos nem foi possível afirmar se houve excesso na conduta dos policiais militares.
O boletim de ocorrência foi encaminhado para abertura de investigação, e os objetos apresentados foram encaminhados para o Instituto de Criminalística. A Polícia Civil não soube informar se inquérito policial foi aberto para apurar os fatos.
Assista aos vídeos postados na internet: