Folha de S. Paulo


Em sanção de Mais Médicos, Padilha nega caráter eleitoreiro do programa

Pouco mais de dois meses após lançar o Mais Médicos em cerimônia no Palácio do Planalto, a presidente Dilma Rousseff fez um novo evento com foco no programa federal, cujo objetivo é aumentar a presença de médicos no interior do país e em periferias de grandes capitais.

Num salão com diversos ministros da Esplanada dos Ministérios e 680 médicos intercambistas inscritos no programa --a maior parte deles de Cuba--, Dilma sancionou a lei com alguns ajustes feitos pelo Congresso Nacional.

Em seu discurso, o ministro Alexandre Padilha (Saúde) negou que o programa tenha caráter eleitoreiro --o petista é candidato virtual ao governo de São Paulo em 2014. Padilha argumentou que quem aponta intenções políticas no Mais Médicos "parece não ter percebido que a solução foi [um pedido] de prefeitos e prefeitas de todos os partidos desse país".

"Há três semanas eu estava junto do prefeito de Salvador, do DEM. Ninguém pode dizer que o DEM é um partido aliado da presidenta Dilma, e fomos visitar duas unidades de saúde", afirmou o ministro.

Para ele, essa alegação é feita por aqueles que já têm garantido atendimento médico. "Só quem tem a facilidade de ter acesso a médicos pode dizer que é eleitoreiro um programa que leva [os profissionais] para milhões e milhões de pessoas."

CORREDOR POLONÊS

Numa fala de cerca de meia hora, Padilha citou exemplos de cidades que já receberam os profissionais do programa e de brasileiros que passaram a ter melhor atendimento. Ele ainda citou nominalmente o médico cubano Juan Delgado, 49, vaiado ao desembarcar no aeroporto de Fortaleza.

"Aquele corredor polonês da xenofobia que te recebeu em Fortaleza não representa o espírito nem do povo brasileiro nem da maioria dos médicos brasileiros", disse Padilha. Delgado, presente à cerimônia de sanção da lei, recebeu longas palmas da plateia.

Padilha fez vários elogios à presidente Dilma, e destacou que a iniciativa "corajosa" de lançar o programa já está sendo reconhecido pela população brasileira. Na época do lançamento, o programa foi alvo de críticas de entidades médicas, que realizaram diversos protestos.

"Não tenho dúvida nenhuma que o ato de coragem da presidenta Dilma já é reconhecido pela população e será cada vez mais. Porque o Mais Médicos não é apenas essa ação emergencial e transitória, que já tem da população um profundo reconhecimento."

TRAMITAÇÃO

Durante a tramitação na Câmara e no Senado, o governo atuou para evitar grandes alterações ao texto original --com isso, foi mantida a essência do programa, como a permissão para que médicos formados no exterior sem revalidação de diploma possam atuar no Brasil por um determinado período.

A mudança mais expressiva feita na medida provisória permitirá agora acelerar o programa: caberá ao Ministério da Saúde, e não mais aos conselhos regionais de medicina, a tarefa de emitir os registros dos médicos intercambistas. O governo alegava que as entidades, contrárias ao programa, estavam atrasando propositalmente a emissão dos documentos.

A primeira etapa do Mais Médicos registrou a participação de 1.258 profissionais, entre aqueles formados no Brasil e no exterior. Na segunda rodada, foram inscritos 2.149 médicos (2.000 deles de Cuba), além de 416 profissionais com diploma nacional --balanço preliminar mostra que, desses, apenas 171 se apresentaram aos municípios.

De acordo com o Ministério da Saúde, 1.232 médicos já estão atuando em postos de saúde em todo o pais. No mês passado, 320 mil consultas foram feitas pelos médicos do programa.


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