Folha de S. Paulo


Termina sem acordo reunião entre USP e estudantes; ocupação na reitoria é mantida

Terminou sem um acordo a reunião marcada para a manhã de hoje entre estudantes em greve e a direção da Universidade de São Paulo.

O encontro aconteceu na sede do Cruesp (Conselho das Reitorias das Universidades Estaduais de São Paulo), na Bela Vista, para negociar a saída dos grevistas do prédio ocupado da reitoria, invadido há 20 dias.

Os estudantes tentam pressionar o reitor João Grandino Rodas a atender suas reivindicações, como eleições diretas para reitor e o fim do convênio da USP com a Polícia Militar. Na sexta-feira (18), os estudantes fizeram um protesto e fecharam duas entradas do campus da Cidade Universitária, na zona oeste de SP.

Segundo os estudantes, a comissão indicada pela reitoria se comprometeu a levar os pedidos para a direção da universidade. De resultado prático, citaram a manutenção do calendário letivo. "Podemos continuar a greve, não haverá prejuízo acadêmico, cada curso e cada professor vai discutir e decidir se haverá reposição de aula. Mas ninguém vai sair prejudicado", afirmou Pedro Serrano, diretor do DCE (Diretório Central dos Estudantes) da USP. A universidade, no entanto, afirmou que o tema ainda não foi definido.

Segundo Serrano, os professores indicados pela USP para participar da reunião teriam a leitura de que a estrutura de poder na universidade, hoje, é insustentável. "Propuseram que no ano que vem a gente possa discutir a eleição para reitor, as alterações no regimento disciplinar da USP - que é da época do regime militar. Mas, para a gente, não existe saída. A ocupação será mantida se não tiver uma resposta para a nossa discussão", afirmou.

Durante o encontro, os alunos também pediram para que a universidade retire a ação em que pede a reintegração de posse da reitoria. "Por duas vezes, a justiça indicou que o problema na USP precisa ser discutido com os estudantes. Por isso, a gente acredita que não tem sentido a universidade pedir na Justiça a reintegração de posse do prédio", disse Arielli Tavares, que integrou a comissão que participou da reunião.

O movimento pede ainda que os grevistas não sejam punidos criminalmente, sejam restabelecidos os fornecimentos de água e energia do prédio da reitoria e que a eleição para os cargos de direção na universidade e nas faculdades seja feita de maneira direta, sem lista tríplice - com voto com peso igual entre professores, estudantes e funcionários.

Pela USP, participaram da reunião o chefe do gabinete do reitor, Alberto Carlos Amadio e os docentes José Carlos Maldonado (Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação), Margarida Maria Krohling Kunsch (Escola de Comunicações e Artes), Sérgio França Adorno de Abreu (Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas), Waldyr Antonio Jorge (Superintendência de Assistência Social) e Welington Braz Carvalho Delitti (Superintendência de Gestão Ambiental).

Por meio de uma nota, a universidade confirmou que a reunião foi centrada em três temas: calendário acadêmico (reposição das aulas e reajuste do semestre), não-punição criminal ou administrativa aos estudantes envolvidos no movimento e religação da água e da luz na reitoria. Segundo o comunicado, "esses três temas estão sendo avaliados pela comissão, que volta a se reunir com os estudantes na próxima quarta-feira, dia 23, às 16h."

RECLAMAÇÃO

Alguns dos alunos presentes à reunião ficaram incomodados com o fato de a reunião de hoje ter sido feita fora da Cidade Universitária. Uma delas foi a estudante Jéssica de Abreu Trinca. Ela reclamou do fato de os estudantes terem informado nome e documentos na portaria do prédio em que fica o Creusp, na Bela Vista. Segundo a estudante, que foi eliminada da USP por conta de processo após a ocupação da reitoria em 2011 e agora briga na Justiça para voltar à instituição, a Polícia Militar pode ter acesso a todos os estudantes.

O local da nova reunião ainda não foi definido. "Nós gostaríamos que fosse na USP, se for fora da Cidade Universitária, vai ser uma imposição da universidade", diz Serrano. Antes de a reunião começar, o estudante, que é do curso de ciências sociais, chegou a comentar que o movimento estudantil "não quer morar na reitoria". "A negociação depende do avanço e qualquer decisão precisa ser aprovada na assembléia geral dos estudantes da USP, às 18h da quinta-feira", afirmou.


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