Folha de S. Paulo


Cães retirados de laboratório podem sofrer estresse, diz especialista

A retirada abrupta de cachorros que vivem em laboratórios de pesquisas pode causar danos aos animais, segundo especialistas. Ontem, ativistas levaram 178 beagles de um instituto em São Roque (a 66 km de São Paulo).

Em laboratórios, os animais vivem sob condições rígidas de controle de alimentação, higiene e temperatura. Ao saírem desse ambiente sem que haja cuidado, eles podem sofrer um dano "incalculável", segundo a veterinária Silvana Gorniak, professora da USP e membro do CFMV (Conselho Federal de Medicina Veterinária).

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Ela avalia que os beagles levados do Instituto Royal podem estar com "enorme estresse" e com seu bem estar "altamente comprometido".

"Ao tirá-los de um ambiente totalmente controlado, onde a contaminação é zero, eles passam a ficar expostos a uma série de doenças infecciosas, a terem problemas nutricionais e a sofrerem com parasitas", afirma ela.

"Fico preocupada com o sofrimento desses animais que, de repente, foram expostos a uma temperatura que eles nunca sentiram, a odores de dezenas de pessoas de uma só vez. O desconforto deve ter sido imenso."

O infectologista Celso Granato, diretor clínico do laboratório Fleury, afirma que dificilmente esses cachorros servirão para a continuidade das pesquisas desenvolvidas, já que foram expostos ao ambiente externo do laboratório.

"Se eles tiverem uma reação, nunca vão saber se foi pela medicação ou por essa exposição", explica ele.
Por isso, os animais, se recuperados, não devem mais ser usados pelo laboratório.

Silvia Ortiz, diretora do Royal, confirma. Ela diz que não tem expectativa de recuperar os animais. E que, mesmo que isso fosse possível, o laboratório não teria mais como mantê-los. Os ativistas agora se mobilizam para encontrar um lar para os bichos.

Os dois especialistas descartam que eles possam trazer riscos para a saúde dos seres humanos que entrarem em contato com os bichos, já que eles vivem em locais isentos de agentes infecciosos.

O uso de animais em pesquisas é permitido --desde que não haja maus-tratos.

O Ministério Público investiga há um ano o laboratório, para verificar as condições em que os animais são mantidos. O promotor responsável diz que a investigação foi prejudicada.


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