Folha de S. Paulo


Análise: Para movimento, é obrigação moral impedir animais de sofrer

Para os que se dispõem a soltar animais usados em testes, esse tipo de ativismo não é muito diferente, em essência, do praticado por abolicionistas que organizavam fugas de escravos 150 anos atrás.

As raízes filosóficas desses grupos vêm do "movimento de libertação animal", cujas diretrizes foram feitas na Universidade de Oxford (Reino Unido) e pelo filósofo australiano Peter Singer nos anos 1970.

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"Libertação" é um eco intencional de movimentos como a abolição da escravatura ou mesmo pelos direitos das mulheres e dos homossexuais.

O raciocínio de Singer, hoje professor de bioética da Universidade de Princeton (EUA), é simples: muitos dos animais usados na pesquisa biomédica --e como alimento e matéria-prima-- têm capacidade de sentir dor física e emocional. Não haveria quase nenhuma diferença entre eles e os seres humanos.

Seria, portanto, obrigação moral, da parte de criaturas racionais, impedir esse sofrimento. Singer já defendeu, até, que fetos ou recém-nascidos humanos, ou mesmo pessoas em coma irreversível, seriam cobaias mais "moralmente adequadas" do que chimpanzés, por exemplo.

Os defensores dessa corrente falam em direitos dos animais como parte de um "círculo moral" em expansão. Antes, dizem, era natural defender que mulheres e escravos tinham pouco ou nenhum interesse próprio. Uma compreensão moral mais madura do mundo acabou com isso. Agora seria a vez dos animais.

De um lado, o movimento tem objetivos políticos. Uma de suas causas é uma "declaração de direitos" para grandes macacos (chimpanzés, bonobos, gorilas e orangotangos), garantindo a esses "primos de primeiro grau" do homem o direito à vida, à liberdade e à inviolabilidade física.

Por outro lado, há facções para as quais o uso da violência pode ser considerado legítimo quando vidas de animais estão em jogo.


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