Folha de S. Paulo


Com confronto em protesto, moradores não conseguem chegar em casa

Dezenas de moradores da região do Jardim Matarazzo, na zona leste de São Paulo, não conseguem retornar para casa na noite desta quinta-feira por conta do protesto por moradia que terminou em confronto. Por volta das 21h, a Tropa de Choque da PM estava no local.

"Não sei o que vou fazer. Tentei passar pelos túneis e pelo viaduto, mas a polícia não deixava", afirmou Maria Zuleide, 48, que foi chamada pela escola do neto para ir buscar a criança quando o protesto começou. Segundo ela, o menino de cinco anos é diabético e precisaria ter recebido uma injeção de insulina às 19h.

Na mesma situação, estava uma adolescente de 17 anos, que foi buscar a prima de sete na mesma escola. As duas estavam em um viaduto que dá acesso ao Jardim Ermelino, por volta das 21h. Alguns manifestantes ainda jogavam pedras contra o viaduto e contra os grupos de policiais militares.

O protesto teve início por volta das 16h30 e reuniu em torno de 300 pessoas na avenida Doutor Assis Ribeiro (zona leste). O grupo, que é contra a reintegração de posse de um terreno da região, montou barricadas com fogo na via e bloqueou a linha 12-safira da CPTM, que ficou com sete estações interditadas por mais de três horas.

Os manifestantes colocaram fogo em três galpões, que, segundo moradores, são da CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano) e atiravam pedras contra os policiais, inclusive com o uso de estilingues. Já a PM respondia com bombas de efeito moral e gás lacrimogêneo.

Gero/Futura Press/Folhapress
Manifestantes colocam fogo em galpões próximos a Doutor Assis Ribeiro durante protesto por moradia na zona leste de São Paulo
Manifestantes colocam fogo em galpões próximos a Doutor Assis Ribeiro durante protesto por moradia na zona leste de São Paulo

"É lamentável que tenham destruído equipamento público. A CDHU investiu muito nessa área, que era uma das mais violentas de São Paulo", afirmou o presidente da CDHU, Antonio Carlos Amaral, que foi até o local do confronto. "Não sei quem são esses moradores", disse ele ao ser questionado porque os moradores estavam revoltados.

Uma jovem de 22 anos, que mora em uma das áreas que passarão pela reintegração respondeu a afirmação de Amaral. "É um absurdo falar em investimento aqui. Tem gente que espera há seis anos a construção de moradia", disse a auxiliar de limpeza, Isabela Aparecida de Oliveira. Ela disse que recebeu a informação de que a reintegração acontecerá ainda neste mês.

Segundo a CET (Companhia de Engenharia de Tráfego), o bloqueio está na altura da rua Caucasica. Os motoristas que seguem no sentido do bairro podem utilizar como opção as avenidas Paranaguá, Abel Tavares e São Miguel. Já aqueles com destino ao centro, podem optar pela rua Custódia de Lima e avenida São Miguel.

Em nota, a CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano) afirmou que foram invadidas, entre os dias 6 e 7 de outubro, quinze áreas no núcleo União de Vila Nova, destinadas a implantação de praças, ruas e escolas. A companhia então ajuizou ação de reintegração de posse, que foi deferida pela Justiça.

"A invasão dessas áreas com destinação social afeta diretamente a população local e prejudica o processo de regularização fundiária do núcleo, que vai garantir a cada morador a matrícula de seu imóvel", diz a CDHU.


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