Folha de S. Paulo


Análise: Punição a carros funcionou em Xangai e Nova York

Pequim e Xangai investiram muito em mobilidade. Pequim fez 440 km de metrô, Xangai tem 462 km (São Paulo, só 74), quase todos construídos nos últimos 20 anos. E uma enorme malha viária, com dezenas de vias expressas e viadutos.

Mas os resultados não poderiam ser mais diferentes: Pequim é uma das cidades mais poluídas e congestionadas do mundo, com 5,35 milhões de carros.

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Xangai adotou o caminho oposto e foi draconiana com o uso de carros.

Desde 1994, quando havia pouquíssimos carros na China, a prefeitura decidiu fazer leilões para vender as placas (licenças) para quem quisesse ter "um artigo de luxo". Quem paga mais, circula.

A partir de 2002, foram instituídos tetos de quantas licenças podem ser emitidas. Se até 2010, o governo permitia 20 mil novos carros emplacados por mês, recentemente apertou para 9 mil.
Uma placa pode custar US$ 12 mil, mais do que ganha por ano, em média, um trabalhador na cidade.

A prefeitura arrecadou quase US$ 1 bi só no ano passado com os leilões -o dinheiro que os mais ricos pagam para dirigir é investido no transporte público. Resultado: Xangai, com 20 milhões de habitantes, tem apenas 1,2 milhão de carros (São Paulo tem 7 milhões). Pequim só começou a imitar Xangai em 2011, com teto no emplacamento. Sua vasta rede de metrô não foi suficiente para acabar com o trânsito destrutivo.

Pagou caro por não prestar atenção no bom exemplo de fora.

São Paulo emplaca 300 mil carros por ano, o triplo de Xangai. Quando as classes médias e altas só se locomovem em carros, milagrosamente os recursos públicos vão para mais asfaltamento, viadutos, túneis, marginais. E o transporte público, para os mais pobres, deixa de ser prioridade. Sucateado.

PUNIÇÃO E ESTÍMULO

Em democracias e nos países desenvolvidos, o liberou geral para o uso de carro é passado.

Em Londres, antes do pedágio urbano, a prefeitura calculava que 30% das viagens de carro eram de trajetos inferiores a 1 km. Cobrando, os cidadãos pensariam duas vezes antes de fazer viagens supérfluas, que uma caminhada de menos de 15 minutos resolve.

Nova York decidiu facilitar a vida do pedestre e do ciclista para azeitar essa transição. 50 pracinhas foram criadas onde antes havia cruzamentos ou faixas para carros. Da Times Square a diversos quarteirões da Broadway, as calçadas dobraram de tamanho, ganhando mesas e cadeiras.

Faz o motorista pensar duas vezes antes de tirar o carro da garagem, melhora a paisagem e reforça o convite para o motorista virar pedestre.


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