Folha de S. Paulo


PMs acusados de matar Amarildo se apresentam à polícia no Rio

Os dez policiais militares da UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) da Rocinha acusados de matar o ajudante de pedreiro Amarildo Souza, 43, em julho deste ano, se apresentaram na noite desta sexta-feira ao Comando da Polícia Militar, no centro do Rio. Eles tiveram a prisão preventiva decretada hoje.

Entre os policiais está o major Edson Santos, ex-comandante da UPP. Eles serão encaminhados para exame de corpo de delito e, em seguida, para alguma unidade prisional no Rio. A juíza Daniella Prado determinou a prisão preventiva do grupo por coação a testemunhas.

'Indiciamento de PMs indica amadurecimento das instituições', diz ministra
Major e mais nove PMs são indiciados sob suspeita de matar Amarildo

O major Edson Santos teria oferecido uma casa na favela de Rio das Pedras, área dominada por uma milícia, para que, em troca, uma testemunha mudasse seu depoimento contra os policiais. O jovem e sua mãe foram incluídos no programa de proteção a testemunhas e retirados do Rio.

Há um mês, quando surgiu a denúncia, o major negou as acusações. Na noite desta sexta-feira, os advogados dos policiais disseram que não falariam sobre as prisões.

O secretário de Segurança Pública, José Mariano Beltrame, divulgou uma nota em que fala do esforço da polícia para elucidar o caso e afirma que a UPP da Rocinha deve ser defendida.

"Administrativamente, a PM tomará as providências que sempre toma, lembrando que constitucionalmente essas pessoas têm direito a ampla defesa, tanto administrativa quanto criminalmente. O importante agora é manter a integridade da UPP Rocinha, que tem a aprovação da grande maioria dos moradores", disse.

Os dez policiais foram denunciados (acusação formal) na noite de ontem (3) pelo Ministério Público. A juíza da 35º Vara Criminal do Tribunal de Justiça do Rio Daniella Alvarez Prado acatou a denúncia e abriu processo contra os policiais.

DEPOIMENTOS

De acordo com depoimentos que constam do inquérito, Amarildo de Souza foi abordado por 14 PMs em um bar próximo à sua casa na rua 2, no interior da Rocinha. Sem documentos, ele foi levado para a base da UPP, onde funciona o Centro de Comando e Controle, que controla as 84 câmeras instaladas na favela.

Dos 14 policiais, apenas quatro levaram Amarildo de Souza para a sede da UPP. As investigações mostram que lá o ajudante de pedreiro teria sido forçado a contar onde estariam escondidas as armas de traficantes da Rocinha. O major Edson Santos sempre negou essa versão. Segundo ele, após Amarildo de Souza não ser reconhecido como traficante, ele foi liberado em "cinco minutos".

Os policiais da Delegacia de Homicídios não encontraram provas de que Amarildo teria deixado o local caminhando, como afirmaram os PMs da UPP em depoimentos. As câmeras instaladas na sede da UPP estavam queimadas. Mas a polícia encontrou uma câmera que funcionava e que não registrou a passagem de Amarildo pelo local.

Na semana passada, a Folha publicou reportagem em que mostrava uma série de depoimentos prestados ao Ministério Público estadual e à Polícia Civil que relataram abusos e torturas praticados pelos policiais militares contra moradores da Rocinha. Entre os depoimentos há suspeita até de autos de resistência (morte em confronto policial) forjados.


Endereço da página:

Links no texto: