Folha de S. Paulo


Justiça do Rio decreta prisão de PMs acusados de matar Amarildo

A Justiça do Rio decretou nesta sexta-feira a prisão preventiva do ex-comandante da UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) da Rocinha, o major Edson Santos, e de outros nove policiais da unidade. Eles são acusados por tortura mediante sequestro com resultado morte e ocultação de cadáver do ajudante de pedreiro Amarildo Souza, 43.

Os policiais se apresentaram ao Comando da PM após o decreto. Eles serão encaminhados para exame de corpo de delito e, em seguida, para alguma unidade prisional no Rio.

"[Policiais acusados de
matar Amarildo se apresentam no Rio]":http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2013/10/1352171-pms-acusados-de-matar-amarildo-se-apresentam-a-policia-no-rio.shtml
'Indiciamento de PMs indica amadurecimento das instituições', diz ministra

O pedido de prisão foi feito pelo delegado responsável pelo caso Rivaldo Barbosa, da Divisão de Homicídios do Rio, e acatado pelo Ministério Público. Segundo a promotoria, os policiais estariam intimidando testemunhas ao estarem em liberdade. A denúncia de que Amarildo sofreu tortura partiu de provas testemunhais.

"Em conformidade com o Código Penal, a prisão cautelar se faz necessária e é a única medida adequada, não só em razão da gravidade concreta dos delitos imputados, quanto pelas condutas dos acusados no curso das investigações, o que pode, como já fundamentado, atrapalhar o decorrer da instrução criminal", diz a decisão.

Os dez policiais foram denunciados (acusação formal) na noite de ontem (3) pelo Ministério Público. A juíza da 35º Vara Criminal do Tribunal de Justiça do Rio Daniella Alvarez Prado acatou a denúncia e abriu processo contra os policiais.

Entre os policiais denunciados estão Douglas Roberto Vital Machado, Marlon Campos Reis e Victor Vinícius Pereira da Silva. Todos negam participação no crime. A defesa deles não foi localizada na tarde de hoje para comentar a denúncia e a decisão da Justiça.

DEPOIMENTOS

De acordo com depoimentos que constam do inquérito, Amarildo de Souza foi abordado por 14 PMs em um bar próximo à sua casa na rua 2, no interior da Rocinha. Sem documentos, ele foi levado para a base da UPP, onde funciona o Centro de Comando e Controle, que controla as 84 câmeras instaladas na favela.

Dos 14 policiais, apenas quatro levaram Amarildo de Souza para a sede da UPP. As investigações mostram que lá, o ajudante de pedreiro teria sido forçado a contar onde estariam escondidas as armas de traficantes da Rocinha. O major Edson Santos sempre negou essa versão. Segundo ele, após Amarildo de Souza não ser reconhecido como traficante, ele foi liberado em "cinco minutos".

Os policiais da Delegacia de Homicídios não encontraram provas de que Amarildo teria deixado o local caminhando como afirmaram os PMs da UPP em depoimentos. As câmeras instaladas na sede da UPP estavam queimadas. Mas a polícia encontrou uma câmera que funcionava e que não registrou a passagem de Amarildo pelo local.

Na semana passada, a Folha publicou reportagem em que mostrava uma série de depoimentos prestados ao Ministério Público estadual e à Polícia Civil em que relataram abusos e torturas praticados pelos policiais militares contra moradores da Rocinha. Entre os depoimentos há suspeita até de autos de resistência, morte em confronto policial, forjados.


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