Folha de S. Paulo


Unicamp pede reintegração de posse da reitoria e condena invasão

A Unicamp condenou nesta sexta-feira (4) a invasão da reitoria e informou que pediu a reintegração de posse do prédio administrativo da universidade, em Campinas (a 93 km de São Paulo).

Na noite desta quinta-feira (3), cerca de 200 estudantes arrombaram uma porta lateral e ocuparam parte do prédio por volta das 20h.

Algumas pessoas entraram no prédio por uma janela que teve os vidros quebrados. Uma lixeira foi usada para tentar arrombar as portas internas do prédio que levam à sala do reitor, mas elas são reforçadas, e a tentativa não foi bem-sucedida.

Os estudantes picharam "Fora PM" e frases em apoio à invasão da reitoria da USP nas paredes. Eles usam camisetas nos rostos para que não sejam identificados pelas câmeras de segurança e permaneciam no local na manhã desta sexta-feira.

Os estudantes estão concentrados em um hall de entrada do prédio e têm acesso limitado a somente algumas salas do térreo. Alguns guardas que faziam a proteção da reitoria na hora da invasão chegaram a ficar isolados nos andares de cima, mas conseguiram deixar o prédio por volta das 23h desta quinta-feira.

"Não há razões objetivas para essa invasão. Menos ainda para a truculência com a qual esse ato foi cometido contra uma instituição universitária aberta ao diálogo", informou a reitoria, em nota. "Por essa razão, a Unicamp ingressou na Justiça com pedido de reintegração de posse, medida que se justifica pela ausência de diálogo por parte dos invasores."

Segundo os estudantes, a ocupação foi uma reação à decisão da reitoria de autorizar a entrada da Polícia Militar nos quatro campi da universidade (Campinas, Limeira, Piracicaba e Paulínia) após a morte de Denis Papa Casagrande, 21. Alunos do campus de Limeira vieram de ônibus para Campinas para participar da ocupação.

Casagrande, estudante do curso de engenharia de controle e automação, foi morto com uma facada durante uma festa dentro do campus.

Segundo a reitoria, a festa --que tinha cerca de 3.000 pessoas-- não tinha autorização para ser realizada.

Atualmente, a segurança da Unicamp é feita por uma empresa terceirizada, e cerca de 260 vigilantes fazem a proteção apenas no campus principal, em Campinas. Na noite em que Denis Casagrande foi morto, cinco vigilantes faziam a ronda no campus.

"Essa invasão, sem prévia apresentação de uma pauta de demandas por parte dos invasores, é injustificável sob qualquer ponto de vista", afirmou a reitoria. "Os invasores não representam a comunidade estudantil, que é pacífica e dialoga permanentemente com a administração."

A invasão da reitoria foi definida em assembleia que reuniu cerca de 600 pessoas no começo da noite desta quinta-feira. A reunião também aprovou, por unanimidade, a rejeição à proposta da atuação da PM na segurança da universidade e o apoio à invasão da reitoria por estudantes da USP.

PM NO CAMPUS

Sobre a presença da Polícia Militar na universidade, a reitoria afirma que "já informou publicamente que discutirá um plano de segurança para todos os campi da Unicamp".

"A reitoria constituiu um grupo de trabalho para elaborar, com máxima urgência, um pré-plano de segurança a ser apresentado e discutido com toda a comunidade. Após essa discussão, o plano será submetido à aprovação do conselho universitário, órgão máximo de deliberação na universidade", afirmou a administração.

Na sexta-feira da semana passada, quando anunciou que aceitaria o oferta do governador Geraldo Alckmin (PSDB), a pró-reitora de desenvolvimento universitário, Teresa Atvars, disse que "a reitoria da Unicamp aceitou prontamente a oferta do governador para que a polícia pudesse entrar e circular no campus".

"Temos um projeto alternativo de segurança para que não haja mais casos como o de Denis", diz Lígia Carrasco, aluna de ciências sociais e integrante da Assembleia Nacional de Estudantes Livres (Anel) que participou da ocupação. "O reitor tem de ouvir a comunidade acadêmica."

"Só vamos sair quando tivermos nossa reivindicação atendida [a não presença da PM na universidade] e com a promessa de que ninguém vai ser punido", afirmou nesta quinta-feira Bruno Modesto, coordenador do Diretório Central dos Estudantes (DCE), durante assembleia realizada pelos estudantes após a invasão.

"A presença da Polícia Militar nos campi da universidade diz respeito a um problema de segurança pública e não a uma tentativa de intimidação ou cerceamento das atividades relacionadas ao contexto acadêmico", afirmou a reitoria. "Importante ressaltar que, apesar do ocorrido, todas as atividades da Unicamp prosseguem dentro da normalidade."


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