Folha de S. Paulo


Major e mais nove PMs são indiciados sob suspeita de matar Amarildo

Após dois meses de investigação, o delegado Rivaldo Barbosa, da Divisão de Homicídios da Polícia Civil do Rio indiciou 10 policiais militares da UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) da Rocinha, na zona sul do Rio, pelo desaparecimento do ajudante de pedreiro Amarildo de Souza, 43, em 14 de julho passado.

Barbosa indiciou os policiais por tortura seguida de morte e ocultação de cadáver. Entre os indiciados está o major Edson Santos, então, comandante da UPP da Rocinha. Santos não atendeu às ligações da Folha.

Barbosa encaminhou o inquérito à Justiça na tarde de hoje. O processo será encaminhado ao Ministério Público para que se decida sobre o pedido de prisão preventiva feito pelo delegado.

Além do major Edson Santos, o delegado indiciou outros nove PMs da UPP. Quatro que levaram Amarildo de Souza até a sede da UPP, em 14 de julho, e outros cinco que estariam no local quando o ajudante de pedreiro chegou ao local. Para isso, o delegado analisou escalas de serviço e depoimentos de policiais.

De acordo com depoimentos que constam do inquérito, Amarildo de Souza foi abordado por 14 PMs em um bar próximo à sua casa na rua 2, no interior da Rocinha. Sem documentos, ele foi levado para a base da UPP, onde funciona o Centro de Comando e Controle, que controla as 84 câmeras instaladas na favela.

Dos 14 policiais, apenas quatro levaram Amarildo de Souza para a sede da UPP. As investigações mostram que lá, o ajudante de pedreiro teria sido forçado a contar onde estariam escondidas as armas de traficantes da Rocinha. O major Edson Santos sempre negou essa versão. Segundo ele, após Amarildo de Souza não ser reconhecido como traficante, ele foi liberado em "cinco minutos".

Os policiais da Delegacia de Homicídios não encontraram provas de que Amarildo teria deixado o local caminhando como afirmaram os PMs da UPP em depoimentos. As câmeras instaladas na sede da UPP estavam queimadas. Mas a polícia encontrou uma câmera que funcionava e que não registrou a passagem de Amarildo pelo local.

Na semana passada, a Folha publicou reportagem em que mostrava uma série de depoimentos prestados ao Ministério Público estadual e à Polícia Civil em que relataram abusos e torturas praticados pelos policiais militares contra moradores da Rocinha. Entre os depoimentos há suspeita até de autos de resistência, morte em confronto policial, forjados.


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