Folha de S. Paulo


Analfabetos buscam menos ajuda para escrever cartas em SP

A mais recente pesquisa de amostra de domicílios do IBGE aponta que o analfabetismo não caiu no Brasil em 2012, mas o "Escreve Cartas" do Poupatempo, serviço voltado a pessoas que não escrevem, já teve mais demanda.

A estudante de administração Maressa Orozimbo, 18, voluntária na unidade de Osasco (Grande São Paulo) há seis meses, ainda não escreveu um único texto. Até agora, só auxiliou pessoas a preencher formulários.

Antes de começar no programa, ela ouviu relatos de voluntários mais antigos que receberam visitas de pessoas que ajudaram.

"Se o serviço fosse 'escreve e-mails', talvez mais gente viesse procurar", diz.

Não é só Maressa que fica ociosa. O serviço começou em 2001 e o número de atendimentos chegou ao auge em 2006, com 38 mil cartas.

De lá para cá, só caiu, apesar de o número de postos ter aumentado de dois para cinco na Grande São Paulo. No ano passado, foram pouco mais de 15 mil atendimentos e neste ano, até agora, menos de 9.000 cartas.

Orlando Joia, diretor de educação de jovens e adultos no Colégio Santa Cruz, tem uma hipótese para explicar a queda de movimento: o telefone celular passou a dar conta dessa necessidade.

"Com o celular manda-se mensagem e é um tipo de texto fácil, flexível e para isso não precisa dominar muita coisa, não precisa ter escolaridade ou saber gramática."

O IBGE aponta ainda que o país tem 122,7 milhões de pessoas que possuem um aparelho de celular --aumento de 6,3% em relação ao dado de 2011. E que o número de internautas cresceu 6,8%.

"As pessoas não alfabetizadas usam lista de contatos no celular", diz Bianca Santana, 29, que defendeu tese de mestrado na USP sobre o uso de tecnologias por parte de analfabetos. Ela afirma que quem não sabe ler pode fazer muito uso da internet e dos computadores.

A diretora de educação de adultos da Prefeitura de São Paulo, Lívia Antongiovanni, 51, faz uma ressalva: as pessoas não alfabetizadas não vão deixar de aprender a ler e escrever porque conseguem "se virar" com celular e computador. Essas coisas vão se influenciar mutuamente, diz.


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