Folha de S. Paulo


Dissipação da fumaça em SC gera preocupação por risco ao ambiente

Além da preocupação com a saúde da população local, o incêndio desta quarta-feira (25) em uma carga de fertilizantes em São Francisco do Sul (no litoral catarinense) gera o temor de um forte impacto ambiental no norte de Santa Catarina.

A coluna de fumaça emitida era vista a 20 km do depósito e, segundo meteorologistas, pode chegar ao sul de São Paulo.

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A dissipação dessa nuvem pelo ambiente pode trazer consequências graves para florestas e animais da região. Uma chuva ácida localizada deve ser gerada na atmosfera pela reação ao produto químico.

A cidade vizinha a São Francisco do Sul, Itapoá, tem a maior parte de seu território preservado com mata atlântica e manguezais. A fumaça já atingia Itapoá na tarde desta quarta-feira.

O professor de química da Universidade Federal de Santa Catarina Nito Debacher afirma que cloreto de potássio, nitrato de amônia e difosfato de amônia, contidos na nuvem, podem levar ao desfolhamento de árvores ou amarelamento de folhas.

"Com o vapor, esse material é corrosivo. Acaba afetando a folha", disse, fazendo a ressalva de que não possui informações técnicas sobre o incêndio.

Ele afirma ainda que o efeito deve demorar alguns dias para ser percebido.

Para o professor, o ideal seria que uma chuva forte atingisse a região para "lavar" essas substâncias e amenizar os efeitos da fumaça.

Se a coluna se deslocar para o mar, o impacto seria menor. Apesar de as substâncias químicas liberada no incêndio terem a capacidade de alterar o pH (potencial de hidrogênio) da água, o efeito seria pequeno devido à diluição.

A ficha de informações técnicas do fertilizante nitrato de amônio afirma que o produto é "muito solúvel em água" e que pode contaminar "cursos d'água", tornando-os impróprios para qualquer finalidade.

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SOBREVOO

A previsão do tempo para os próximos dias na região é de predomínio de sol. O professor da Universidade do Vale do Itajaí (SC) Roberto Dalla Vecchia, doutor em química, considera que uma chuva imediata pode ser pior porque a fumaça está muito concentrada. Ele diz que o ambiente "vai ter que dar um jeito" de fazer a dissipação.

"Se chover, essas substâncias suspensas podem formar alguma outra substância e precipitar em forma de chuva, que pode ser ácida ou muito alcalina. Em cima de plantas, vai ter problemas."

Os especialistas ouvidos pela reportagem falam em grande necessidade de um monitoramento da área atingida.

A Fatma, órgão do meio ambiente do governo catarinense, ainda analisa as consequências do incidente para a região. Técnicos fizeram um sobrevoo pela área afetada nesta terça-feira.

Segundo o gerente regional José Paulo Cabral, ainda é cedo para estimar os impactos nas florestas e águas.


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