Folha de S. Paulo


Polícia descarta prisão de mulher por morte de estudante da Unicamp

Titular do setor de homicídios de Campinas (a 93 km de SP) e responsável pela investigação do assassinato do estudante da Unicamp Denis Papa Casagrande, 21, o delegado Rui Pegolo informou nesta quarta-feira (25) que por enquanto não pedirá a prisão da mulher que confessou o crime.

Segundo a Secretaria da Segurança Pública, o delegado em primeiro lugar checará todas as versões dela sobre o caso. Pegolo havia informado à secretaria, na noite de segunda, que uma mulher foi ouvida pela polícia, alegou legítima defesa e confessou o homicídio.

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Denis foi esfaqueado na madrugada de sábado (21), por volta das 3h30, em uma festa no teatro de arena da Unicamp, dentro do campus. Ele chegou a ser socorrido por uma ambulância, mas não resistiu ao ferimento.

Maria Teresa Alexandrino Pelegrino, 20, depôs na segunda à noite na delegacia. Saiu sem falar com a imprensa e cobrindo o rosto, mas seu namorado, que a acompanhava, afirmou: "Foi legítima defesa. O cara tentou agarrar ela à força e bateu nela". O atendente Anderson Mamede, 20, completou: "Infelizmente ele [Casagrande] morreu e não está aqui para poder comprovar nada".

A reportagem não conseguiu contato com a defesa de Mamede e de Pelegrino.

Reprodução/Facebook
O estudante Denis Casagrande foi morto, neste sábado (21), em uma festa dentro do campus da Unicamp, em Campinas (SP)
O estudante Denis Casagrande foi morto, neste sábado (21), em uma festa dentro do campus da Unicamp, em Campinas (SP)

RESPONSÁVEIS

"O delegado me disse que a Maria Teresa assumiu a culpa", disse ontem à Folha o pai de Denis, Celso Casagrande, que depôs na delegacia.

"Mas não foi só ela. Há mais responsáveis. O assassino é quem desferiu a facada, mas houve a participação de outras pessoas. E não foi só um ou dois, foram vários. Era uma gangue".

Segundo um amigo que morava com o estudante de engenharia, um grupo de jovens o atacou. "Bateram até com um skate", disse o rapaz, que pediu para não ser identificado. Posteriormente, Mamede confirmou ter agredido Denis com um skate.

PRÓXIMOS PASSOS

Segundo a SSP, por ora a reconstituição do crime está descartada. O delegado está ouvindo testemunhas e analisando as imagens das câmeras de segurança da universidade.

Uma faca, que foi encontrada ontem pela Polícia Civil enterrada ao lado de um ponto de ônibus próximo ao campus, não será encaminhada para a perícia por enquanto. Ela está sendo usada como objeto de reconhecimento pelas testemunhas que estão sendo ouvidas na delegacia.

Pegolo afirmou à secretaria que não vai informar quem está prestando depoimento para não atrapalhar as investigações. O inquérito policial continua em aberto.

AUTORIZAÇÃO

Estudantes do DCE (Diretório Central dos Estudantes) da universidade, órgão que organizou um ato em homenagem a Denis na manhã de ontem, afirmam que as festas ocorrem todas as semanas no campus e a administração faz "vista grossa". "Não dá para a reitoria lavar as mãos e fingir que as festas não acontecem", disse Bruno Modesto, estudante de ciências sociais e um dos coordenadores do DCE.

A Folha questionou a entidade sobre a realização de festas sem autorização no campus, mas não obteve resposta até a publicação desta reportagem.

"Não tem mais o que fazer para trazer o Denis de volta, mas eles têm de tomar mais cuidado com esse tipo de festa", disse o pai de Denis. "Os jovens têm o direito de se divertir. O certo seria ter a festa, mas com uma seriedade maior das autoridades. Não é a proibição que vai resolver."


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