Folha de S. Paulo


Cubanas do Mais Médicos se assustam com recepção no interior de SP

Quando decidiram vir para o Brasil trabalhar pelo Mais Médicos, as médicas cubanas Tania Sosa, 45, e Silvia Blanco, 44, decerto não imaginavam a repercussão que o programa teria.

Tímidas e não acostumadas com contatos com a imprensa, elas foram tratadas como celebridades pelos políticos de Pedreira e Santo Antônio de Posse, pequenas cidades na região metropolitana de Campinas (a 93 km de SP) onde vão atuar.

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Após passarem 21 dias em treinamento no Recife e sete dias em São Paulo, ambas chegaram à região no sábado (22).

Silvia foi recepcionada no mesmo dia pelo prefeito Maurício Comisso (PRB), secretários e vereadores na Câmara Municipal de Posse, ganhou de presente uma Bíblia em espanhol, uma camisa da Seleção e flores e chorou.

"Eu não estou acostumada com isso. Agradeço pelo acolhimento", disse, em "portunhol" de fácil compreensão.

Para que Silvia não fique sozinha nos primeiros dias, a mãe da secretária de Saúde da cidade lhe faz companhia, inclusive dormindo na casa de dois quartos alugada para a médica.

Tania encontrou o prefeito Carlos Evandro Pollo (PT) em uma feira agropecuária da cidade, mas preferiu ficar no hotel em que está hospedada até que a casa que foi alugada para ela seja desocupada.

Silvia e Tania ficaram próximas durante as quatro semanas de treinamento no Brasil, pois é a primeira missão internacional que as duas fazem sozinhas. Casadas e com filhos, ambas deixaram a família em Cuba.

Apesar da recepção, Tania, Regina e cerca de 50 profissionais que vão atuar pelo Mais Médicos em São Paulo não poderão trabalhar hoje. O Cremesp (Conselho Regional de Medicina do Estado) não emitiu nenhum dos registros provisórios solicitados pelo Ministério da Saúde

DESCONHECIMENTO

E apesar das recepções festivas promovidas pelo poder político local, poucos moradores consultados pela reportagem tinham ouvido falar da chegada das médicas cubanas às cidades.

Gustavo Lima, 19, não conhecia o Mais Médicos e dizia não saber que Pedreira receberia uma profissional de Cuba.

"Acho bom que ela venha, mas não seria melhor um brasileiro?", disse o atendente de uma loja na mesma rua do hotel em que Tania está hospedada. "Mas é melhor ter um estrangeiro do que não ter médico."

Pedreira pediu três médicos ao governo federal e está recebendo uma médica cubana após ninguém ter escolhido a cidade. Santo Antônio de Posse pediu cinco e também não teve interessados.

"Eu vi um pessoal ali na Câmara. Era isso?", pergunta Antônio Bueno, 64, dono de um bar na praça em frente ao prédio, onde Silvia foi recebida por políticos.

"O pessoal da cidade está esperançoso com esses médicos. A saúde aqui é como em todo lugar: precária."


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