Folha de S. Paulo


Chegada de cubanos do Mais Médicos vira evento no interior de PE

A carência de médicos em Brejo da Madre de Deus (a 200 km do Recife) transformou em evento neste final de semana a chegada do casal de médicos cubanos Teresa Rosales, 47, e Alberto Vicente, 43.

O município de 45 mil habitantes ganha atenção internacional durante a Semana Santa por causa da encenação da Paixão de Cristo na cidade-teatro de Nova Jerusalém. Porém, no restante do ano, tem rotina pacata de cidade do interior.

Só 6% dos médicos poderão começar a trabalhar
Em SP, 55 profissionais aguardam registro
Médicas cubanas se assustam com recepção em SP

A dona de casa Amanda da Silva, 20, chegou ao posto de saúde onde Alberto trabalhará mais de uma hora antes dos médicos, que visitaram o local no domingo (22). Levava o filho Renato, 5 meses, e a irmã Lília Carolina, 15.

"Faz um bocado de tempo que não tem médico", disse Amanda. Por "um bocado de tempo" entenda-se mais de um ano, segundo as contas da Secretaria de Saúde.

O prefeito reeleito da cidade foi cassado e uma nova administração, do PSDB, assumiu há 45 dias.

"Tem muito médico que nem olha para a gente. Nossa saúde precisa de profissionais que deem valor ao ser humano. Não importa de onde seja, desde que seja bom profissional", disse a dona de casa Maria Eunice Ferreira, 51.

A curiosidade em torno dos médicos era grande. "Cuba é longe?", perguntou uma mulher. "Vocês também são de Cuba?", indagou outra à reportagem da Folha.

Algumas mães entregaram seus bebês no colo dos médicos para fotos. Os cubanos saíram do posto de saúde sob aplausos.

"[A comunidade pode esperar de nós] o melhor. Vamos trabalhar muito, tratando de melhorar a saúde deles. Sempre vai ser assim", disse Teresa.

"Confiem em nós. Nós somos cubanos, mas temos capacidade para atender toda a população e a população tem que confiar em nós", afirmou Alberto.

Ainda sem registro provisório para atuar, o casal deverá continuar hoje visitando a cidade.

POSTO COM CHEIRO DE TINTA

Neste domingo (22), Teresa e Alberto começaram com um passeio pelos cenários de Nova Jerusalém, maior teatro ao ar livre do mundo, onde anualmente é encenada a Paixão de Cristo

Em seguida, foram ao posto no distrito de São Domingos. Um grupo de moradores do bairro já os aguardava.

Eles vistoriaram a unidade recém-reformada que ainda cheirava a tinta.

Teresa não conheceu a unidade em que vai trabalhar porque os equipamentos estavam sendo transferidos para outro imóvel.

O casal, que ficará esta semana hospedado em uma pousada, conheceu a casa em que vai morar e foi apresentado a alguns vizinhos.

"Gosto de fazer café e dar aos vizinhos, fazer doces. Em Cuba é assim. Eu chego à minha casa e chamo [os vizinhos]", disse Teresa ao ser cumprimentada por um grupo de cinco pessoas que foi vê-los em casa.

O costureiro José Lucas Bezerra, 19, mora ao lado da casa alugada pela prefeitura para os médicos. Sem saber que se tratavam de estrangeiros, perguntou se eram bolivianos quando ouviu o sotaque diferente.

"É bom que a gente aprende uma língua diferente. E qualquer dor de cabeça, bate na porta deles", afirmou.

Desconfiado com as questões linguísticas, o aposentado Vanildo Ferreira, 70, ficou satisfeito por compreender o que disse Alberto ao trocarem algumas palavras. "Dá para entender muito bem. Falou bem mesmo."


Endereço da página:

Links no texto: