Folha de S. Paulo


'Ninguém entende quando falo que queria morrer', disse jovem

Caras e bocas no espelho, discussões sobre garotos da escola, canções de amor e a predileção por guloseimas --as vidas de Giovanna e Paola Victorazzo eram como a de qualquer adolescente, a julgar pelo que escreviam em redes sociais na internet.

A aparente exceção foi um recado de Giovanna, 14, no Twitter, uma semana atrás: "Gente, ninguém me entende quando eu falo que queria morrer e ver a reação das pessoas aqui na terra (...)".

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A mensagem ganhou tom de profecia entre os amigos da garota ontem. Um deles disse: "Tô besta".

Também na terça havia postado a foto de um anjo prestes a se jogar de um prédio, o que os amigos interpretaram como um prenúncio.

Era a imagem do clipe de uma das suas músicas favoritas, "Give Me Love", de Ed Sheeran. Em inglês, citou um trecho da letra: "Dê-me amor como nunca antes".

'BAIXINHA'

Reprodução/Facebook
Giovanna Victorazzo foi achada morta com a irmã
Giovanna Victorazzo foi achada morta com a irmã

Um ano mais velha que a irmã, Giovanna era a "baixinha", como se intitulava, ou "pequena", como escreveram os seus amigos nos bilhetes deixados no portão da sua casa, no Jardim Bonfiglioli, na zona oeste, às margens da rodovia Raposo Tavares.

A altura era motivo de troça dos colegas, que ironizavam o fato de a irmã mais nova, Paola, 13, ser mais alta.

São-paulina, dizia ter medo de perder alguém que amasse. Gostava de ir à avenida Paulista, de comer açaí e bombons de chocolate.

Com cabelos pretos e olhos castanhos, era assediada frequentemente por garotos. Dizia não estar namorando.

No Instagram, um recado carinhoso para a mãe, também em inglês: "#Mamãe #e #rick #amor, #vida #meu céu #Mary #para sempre". Fora postado quase um ano atrás, sob uma foto em que a mãe sorri discretamente com Rick, um dos cães da família.

Reprodução/Facebook
Paola Victorazzo foi achada morta em casa
Paola Victorazzo foi achada morta em casa

Paola, mais discreta nas postagens que a irmã, era companhia frequente nas fotos com Giovanna. Questionada se escolheria dinheiro ou fama, respondeu: "Prefiro ser feliz".

Na tarde de ontem, 19 recados afixados na frente da casa falavam das meninas, mais de Giovanna do que de Paola. "Por que você foi sem se despedir de mim?", disse uma amiga. "Vocês são anjos no céu", dizia outro recado.

Ambas foram enterradas ontem em Taboão da Serra (Grande SP). O pai, separado da mãe há oito anos, e os amigos compareceram.

No Colégio Giordano Bruno, alguns alunos que eram mais próximos das meninas foram dispensados da aula. Nivaldo Canova, diretor da unidade, afirmou que as meninas deixaram de estudar lá há dois anos, mas mantinham muitas amizades.

Segundo ele, responsáveis pela escola passaram em todas as salas ontem para conversar e ouvir os alunos. "Fizemos reflexões e orações também e lembramos delas com muito amor", disse.


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