Folha de S. Paulo


Grávida atingida por gás em protesto pode perder bebê, dizem sem-teto

Policiais militares usaram spray de pimenta e gás lacrimogêneo para dispersar manifestantes durante um protesto, na manhã desta sexta-feira, numa rodovia que dá acesso a Brasília. A coordenação do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto), que organizou o ato, informou que uma jovem grávida de quatro meses foi atingida, passou mal e corre risco de perder o bebê

O protesto integra o Grito dos Excluídos, que anualmente ocorre no feriado de 7 de Setembro, mas foi antecipado em um dia pelo MTST porque o grupo de ativismo hacker Anonymous convoca protesto para a Esplanada dos Ministérios no dia de amanhã.

A mulher de 23 anos, que mora num barraco alugado na periferia de Taguatinga, segundo o MTST está internada no hospital regional de Guará desde a manhã de hoje. Ela pediu ao MTST que sua identidade fosse preservada.

Fabio Rodrigues Pozzebom/ABr
Sem-teto fecham rodovias do Distrito Federal durante protesto; jovem grávida é internada e pode perder o bebê
Sem-teto fecham rodovias do Distrito Federal durante protesto; jovem grávida é internada e pode perder o bebê

Por meio da assessoria de imprensa, a Secretaria de Saúde do Governo do DF não confirmou nem desmentiu a internação, sob o argumento de que não tem como localizar a mulher descrita pelo MTST. Segundo a assessoria, como o MTST não divulgou o nome da paciente, se tornou impossível localizar a mulher no hospital de Guará.

Edson Silva, da coordenação da entidade, disse que os médicos do hospital informaram que a mulher teve sangramentos ao longo do dia e corre risco de aborto. Ele criticou a dificuldade da secretaria em confirmar a internação. "Houve essa violência da polícia e por isso agora ninguém sabe de nada", disse Silva.

Segundo Silva, a mulher integrava o grupo de cerca de 400 famílias que participaram das manifestações na manhã de hoje pelo Grito dos Excluídos, bloqueando quatro rodovias ao mesmo tempo.

Todos os bloqueios, que provocaram quilômetros de engarrafamento a partir das 8h, foram dispersados por homens da Polícia Militar por volta das 10h.

A coordenação do MTST afirmou que cinco manifestantes foram presos e levados para a delegacia do Guará e outros quatro se feriram, incluindo uma criança de quatro anos. Silva afirmou que o MTST vai fazer novos protestos na manhã do dia 7 de Setembro caso os manifestantes não sejam libertados pela Polícia Civil nas próximas horas.

A exemplo da Secretaria de Saúde, a assessoria de comunicação da Polícia Militar não confirmou o registro de nenhum ferido na dispersão dos protestos. Também não confirmou a prisão de nenhum manifestante.

A PM confirmou ter usado "um gás ou outro" na operação de desbloqueio da mesma rodovia em que, segundo o MTST, estava a mulher grávida. A PM justificou a ação citando o engarrafamento de "mais de 2.000 veículos" que se formou a partir do bloqueio. Segundo a PM, foi usada a força porque havia "menos de 60 pessoas prejudicando milhares".


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