Um quadro do cartunista Carlos Latuff, que retrata um homem negro crucificado sendo baleado por um policial, vai ser leiloada após dividir a Justiça do Rio de Janeiro.
A obra polêmica ficava na sala de audiências do juiz João Batista Damasceno, da 1ª Vara de Órfãos e Sucessões do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, até a última terça-feira (3), quando ele recebeu uma ordem do Órgão Especial da Justiça do Rio para retirar a imagem.
No mesmo dia, o quadro recebeu "asilo artístico" do desembargador Siro Darlan, que o afixou na parede de sua sala --o Órgão Especial da Justiça não tem gerência sobre o gabinete dele.
Em entrevista à Folha, Damasceno disse que, agora, a obra será leiloada na Casa da Gávea, zona sul carioca, no próximo mês. O dinheiro arrecadado será revertido para a família do ajudante de pedreiro desaparecido na favela da Rocinha, Amarildo de Souza, 43.
"Nós voltamos à idade média, período que se fala em queimar obras de arte. A constituição é muito clara quando fala sobre a liberdade de produção artística, intelectual, independente de censura, da liberdade da manifestação do pensamento. Eu não conheço outra palavra, se não censura, que possa traduzir a determinação de retirada de uma obra de arte", disse Damasceno.
Reprodução/Facebook/Carlos Latuff | ||
Após receber 'asilo artístico', quadro com policial militar atirando em negro será leiloado no Rio de Janeiro |
A assessoria do tribunal não se manifestou sobre o caso. A decisão do Órgão Especial foi tomada após solicitação do deputado estadual Flávio Bolsonaro (PP), encaminhada à presidente do TJ, a desembargadora Leila Mariano.
O deputado alegou ao tribunal que a charge estava na sala da 1ª Vara de Órfãos e Sucessões "sob o pretexto da desmilitarização da política de segurança". A Folha tentou contato com Bolsonaro, mas ele não foi localizado.
O artista Carlos Latuff defendeu a livre exibição da charge em sua página no Facebook. Ele destacou supostas ameaças que o juiz teria recebido por pendurar sua obra na sala de audiência do TJRJ.
"Juiz João Batista Damasceno já recebe ameaças de morte por pendurar quadro com minha charge sobre a violência policial em seu gabinete", escreveu na rede social.