Folha de S. Paulo


Secretário de Saúde de Alckmin assume e critica governo federal

O médico David Uip, 61, assumiu nesta quinta-feira o cargo de secretário estadual de Saúde de São Paulo e não poupou críticas ao governo federal.

No discurso de posse, o novo secretário reclamou da falta de repasses federais para a saúde e reivindicou o reajuste da tabela de remuneração paga pelo SUS (Sistema Único de Saúde).

Segundo Uip, São Paulo investe em saúde mais do que o exigido pela Constituição, mas não vê a "mesma disposição por parte do governo federal, que vetou a aplicação de 10% do PIB na área da saúde, deixa de enviar anualmente R$ 1 bilhão para o SUS de São Paulo e mantém a tabela de pagamentos do Ministério da Saúde congelada há anos, aniquilando as santas casas e hospitais filantrópicos, que, quanto mais atendem aos pacientes do SUS, mais se endividam".

A jornalistas, o novo secretário citou, por exemplo que um parto custa para uma Santa Casa R$ 900, mas que o SUS remunera apenas R$ 433. "Não fecha a conta. Vou falar com o ministro da saúde [Alexandre Padilha], se for o caso com a presidente Dilma, para acertamos essas tabelas", disse.

Padilha, a quem Uip chamou de "grande amigo", é o principal nome do PT para a disputa do governo de São Paulo em 2014 contra o tucano Geraldo Alckmin.

Questionado sobre o papel da saúde nas próximas eleições, o secretário disse que sua gestão não terá papel político.

"Eu acho que não combina saúde com política, saúde combina com políticas públicas. Toda vez que a política entra na agenda central da saúde, o povo perde. A minha postura é a de secretário de Estado que vai discutir com o ministro da saúde, que é meu grande amigo, políticas públicas. Política não é minha área", afirmou.

HOSPITAIS

Uip disse que seu maior desafio no cargo será reorganizar o atendimento dos hospitais paulistas. Ele afirmou que 80% dos pacientes que procuram prontos-socorros poderiam ser tratados em unidades básicas ou programas de saúde da família.

"Como não existe uma resolução adequada, que eu espero que venha a ter, eles buscam o recurso que é mais rápido e mais efetivo e sai com uma receita ou com medicamento. Mas isso entrava o sistema de entrada da urgência e emergência."

O secretário disse que já está mapeando os serviços de saúde de todo o Estado e que sua equipe fará visitas para identificar os principais problemas dos locais. "Eu vou às ruas. Os relatórios que disponho são espetaculares, mas nada como a visão do dono no local".

Uip afirmou que fará um "trabalho de continuidade" do antecessor no cargo, Giovanni Cerri. No discurso de despedida, o ex-secretário destacou que sua gestão implantou a lei que proibiu a venda de bebida alcoólica para menores e ampliou o atendimento a dependentes químicos.

MAIS MÉDICOS

Indagado sobre o programa federal Mais Médicos, que não teve o seu apoio desde que foi lançado, Uip disse que não concorda com a política, mas afirmou estar torcendo para que tenha sucesso.

"Não é isso que resolve a saúde, mas espero que dê certo. A minha posição é que saúde se faz com o trabalho no dia a dia, com investimento, multidisciplinaridade, o médio sozinho não resolve", disse.

No discurso, ele afirmou que "nunca acreditou em soluções fáceis, circunstanciais e marqueteiras" para a saúde pública, mas, ao ser questionado se o Mais Médicos se enquadrava na definição, negou.

O médico infectologista ganhou fama atendendo políticos e celebridades. A presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente José Sarney já foram seus pacientes. Uip disse que vai se dedicar "24 horas, 7 dias por semana" à secretaria, mas que não pode abandonar seus pacientes e que encontrará tempo para atendê-los.

Ele se formou em medicina em 1975 pela Fundação Universitária do ABC, na Grande São Paulo. Fez mestrado e doutorado em doenças infecciosas e parasitárias na Faculdade de Medicina da USP, na qual também tem o título de professor livre-docente.

Ao ser convidado para assumir a pasta, dirigia o hospital Emílio Ribas e era professor titular da Faculdade de Medicina do ABC, além de fazer parte dos quadro de profissionais do Sírio Libanês. Entre 2003 e 2008 foi diretor executivo do Instituto do Coração do Hospital das Clínicas de São Paulo.

Também é dono da clínica Professor David E. Uip, que fica nos Jardins, zona oeste de São Paulo.


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