Folha de S. Paulo


Embaixada se prepara desde março para tramitar documentos de cubanos

A embaixada brasileira em Cuba trabalha a todo vapor para tramitar ao menos 14.400 documentos para os 3.600 médicos cubanos que ainda virão ao Brasil até o final deste ano, num esforço logístico que começou em março.

Foi naquele mês que o embaixador brasileiro em Havana, José Felicio, pediu ao governo cubano um reforço na capacidade de internet da representação, prevendo o volume de documentos (são quatro por cada médico) que teria de processar para os profissionais.

"Os cubanos ajudaram em tudo, mas um dos aspectos que depende da burocracia do governo e que não pude contar foi o reforço da internet. Mandei uma nota solicitando em março, mas até hoje não recebi resposta", disse à Folha Felicio, que está se despedindo de Havana após três anos rumo a Assunção.

O serviço está a cargo de uma equipe enxuta, que contou com três reforços de fora, e máquinas especiais para a impressão de vistos e até CPF -é a primeira vez que uma representação estrangeira do Brasil é autorizada a fornecer o documento. Outras embaixadas que processarão inscrições do "Mais Médicos" também poderão emitir CPF, segundo o Itamaraty.

SEIS MESES

Os preparativos da embaixada para tramitar documentos de cubanos desde março e os relatos ouvidos pela reportagem em Havana sobre o treinamento dos profissionais cubanos para ir ao Brasil há pelo menos seis meses contrastam com as datas e o discurso de lançamento do programa "Mais Médicos".

Como a Folha mostrou na semana passada, o contrato do Brasil com a OPAS, braço da OMS nas Américas que possibilitaria depois o acordo com Havana, é de maio.

Em 8 de julho, o Ministério da Saúde insistiu que a prioridade seriam os brasileiros. Quanto aos estrangeiros, os prioritários seriam portugueses e espanhóis. Já os cubanos, aventados antes pelo Itamaraty, poderiam se inscrever como "pessoas físicas".

Ocorre que, segundo a médica cubana Ana (nome fictício), 49, que vem para o Brasil no dia 10 de setembro, ela foi selecionada pelo governo para a missão ao Brasil ainda no primeiro semestre, quando fez curso de português, epidemiologia e doenças tropicais.

Na segunda quinzena de junho, Ana e um grupo de colegas foi treinado em Alamar, na Grande Havana, por um profissional brasileiro que veio à ilha especialmente para tarefa. O modelo se reproduziu por toda Cuba, com técnicos brasileiros treinando os cubanos recrutados para ir ao Brasil.

"Explicaram tudo, o que poderíamos encontrar, como era o sistema público brasileiro. Mostraram até modelo do consultório no qual iríamos trabalhar. Foi um curso muito intenso, de 12 horas diárias por 15 dias", contou Ana.

OUTRO LADO

Questionado sobre o curso preparatório para médicos cubanos ministrado por profissionais brasileiros em Cuba durante o mês de junho, o Ministério da Saúde não respondeu. Segundo a pasta, cursos de atenção básica e até de português fazem parte do intercâmbio entre equipes de saúde dos países desde 2011.

De acordo com o ministério, em fevereiro deste ano "o governo de Cuba manifestou interesse em formatar uma proposta de missões de médicos ao Brasil", oferta que foi formalizada em maio.

"A MP [Medida Provisória] do Mais Médicos criou um visto específico para os médicos estrangeiros que virão trabalhar no Brasil, logo as instruções para emissão de visto às embaixadas do Brasil só foram feitas com base nas regras da MP", disse a pasta.

Questionado, o Itamaraty não informou quando o reforço de pessoal para a embaixada de Havana foi pedido e quando foi incorporado à representação.

Editoria de Arte/Folhapress

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